• 18 de novembro de 2024
  • Market: Fertilizers

O aumento da procura interna por milho, impulsionado pelo setor de etanol de milho, deve elevar a produção e a exportação de DDG, um produto rico em proteína que pode beneficiar o setor de ração animal. Junte-se a Renata Cardarelli, editora da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes, e Maria Albuquerque, que atua na publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes, em um bate-papo sobre esse mercado em expansão no Brasil, as perspectivas de produção e exportação para os próximos anos.

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RC: Olá e bem-vindos ao ‘Falando de Mercado’ – uma série de podcasts trazidos semanalmente pela Argus sobre os principais acontecimentos com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Renata Cardarelli, editora da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes, e no episódio de hoje, converso com Maria Albuquerque, estagiária da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes, sobre o aumento da produção de DDG no Brasil, impulsionado pelo crescimento da demanda interna por milho no país.

RC: Bem-vinda, Maria! Para começar, você poderia nos explicar o que é DDG e qual a vantagem deste produto?

MA: Olá Renata, claro! DDG é a sigla em inglês para grãos secos de destilaria. O DDG é o principal subproduto gerado na produção de etanol de milho.

Após o processo de fermentação e destilação do milho, um dos materiais residuais dessas etapas passa por um processo de secagem, formando o DDG.

O DDG é considerado uma commodity rica em proteínas que pode ser utilizada para substituir o milho, caroço de algodão, farelo de soja ou outros farelos na produção de ração animal.

A utilização desse subproduto na formulação da ração animal, ao invés do milho, por exemplo, possui uma vantagem mercadológica. A produção do DDG ocorre de qualquer maneira a partir da produção de etanol de milho, ou seja, é um subproduto disponível e não teria outro fim. Com o uso do DDG para ração animal, o milho pode ser destinado para outros setores.

RC: Muito interessante, Maria. Quanto o Brasil deve produzir de DDG em 2024 e nas próximas safras?

MA: O Brasil deve produzir cerca de 5,2 milhões de toneladas (t) de DDG neste ano, segundo as projeções do banco de investimentos Itaú BBA. Esse volume representaria um crescimento de 28pc em comparação com a produção de 4,1 milhões de t em 2023 e seria quase o dobro das 2,9 milhões de t produzidas em 2022.

Essa alta esperada pelo Itaú BBA também está em linha com as expectativas da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), que projeta a produção brasileira de DDG em 6,5 milhões de t até 2032.

RC: Realmente é um aumento considerável. Como isso está relacionado ao crescimento da demanda doméstica por milho?

MA: O aumento recente da procura interna por milho no Brasil tem muito a ver com o crescimento da produção de etanol de milho no país, de onde vem o DDG.

A demanda brasileira por milho na safra 2023-24 está projetada em 84,2 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Isso representa um crescimento de 5,8pc em comparação com a temporada 2022-23 e um crescimento de mais de 35pc em relação a cinco anos atrás na temporada 2018-19.

Até o fim do ano, cerca de 17,3 milhões de t de milho devem ser direcionadas para a produção de etanol de milho, o equivalente a 20,5pc da demanda doméstica. Em 2023, a procura por milho pela indústria de etanol foi de 13,4 milhões de t.

Já para 2025, o volume de milho destinado à produção de etanol deve ser de 19,4 milhões de t, crescimento de 12pc em comparação com 2024.

No ciclo 2023-24, o Brasil produziu cerca de 6,3 bilhões de litros (l) de etanol de milho, respondendo por 19pc de todo o etanol produzido no Brasil, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica). Isso representa um crescimento de 3,4 pontos percentuais em comparação com a temporada 2022-23.

Na safra 2013-14, dez anos atrás, a participação do etanol de milho no mercado brasileiro de etanol era de menos de 1pc.

Já para a safra 2024-25, o Itaú BBA estima que o Brasil produza cerca de 7,8 bilhões de l de etanol de milho, o que seria um amento de 25pc em comparação com o ciclo 2023-24. Para 2025-26, a produção deve chegar a 8,7 bilhões de l, outro crescimento de 11pc ante os volumes esperados para 2024-25.

Atualmente o Brasil possui 21 unidades de etanol de milho e quatro novos projetos devem começar a operar até o fim deste ano, demonstrando que os volumes devem crescer ainda mais nos próximos anos.

RC: Interessante. Esse aumento da indústria de etanol de milho vai fornecer ainda mais suporte para o setor de DDG.

O Brasil tem mercado para absorver toda a produção esperada de DDG?

MA: Sim, Renata! O Brasil possui uma alta demanda por matérias-primas para a produção de ração animal. Considerando a carne de frango, o país é o segundo maior produtor e o primeiro maior exportador. Considerando a carne suína, o Brasil é quarto maior produtor e exportador, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Esses dados mostram como a pecuária é um mercado forte no país.

No primeiro semestre de 2024, o Brasil produziu cerca de 42 milhões de t de ração animal, um crescimento de 1,4pc em comparação com o primeiro semestre do ano passado, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações). Até o fim do ano, a expectativa é de uma produção de 86 milhões de t, o que representaria um aumento de 2,4pc em relação a 2023.

Se considerarmos apenas a substituição de DDG por milho na produção de ração animal, o Paraná teria o maior potencial para ser o principal consumidor de DDG no mercado doméstico, de acordo com participantes de mercado. Em seguida viriam os estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás

Além disso, segundo as projeções do Itaú BBA, cerca de 3,5 milhões de toneladas – ou 85pc – da produção de DDG no Brasil foram destinadas ao mercado doméstico em 2023. Para 2024, as expectativas apontam para um potencial de consumo interno de 4,3 milhões de t, um crescimento de 23pc em comparação com o ano passado.

RC: Interessante, Maria. Então a maior oferta de DDG poderia ser benéfica para o país, considerando que aumentaria a disponibilidade de insumos para a produção de ração animal. Pensando em mercado externo, como o Brasil está posicionado em relação às exportações?

MA: O mercado de exportação de DDG no Brasil ainda é relativamente novo, porém já apresenta um crescimento considerável.

Os primeiros embarques de DDG do Brasil começaram em 2020, com pequenos volumes enviados para Turquia e Reino Unido. Porém, em 2021 as exportações foram suspensas por causa da pandemia de Covid-19. Em 2022, os embarques foram retomados, totalizando 279.000 toneladas, de acordo com a União Nacional de Etanol de Milho (Unem).

Para 2024, o Itaú BBA estima que as exportações de DDG alcancem 744.000t, o que seria um aumento de 22pc em comparação com 600.000t embarcadas em 2023.

No ano passado, o maior importador de DDG do Brasil foi o Vietnã, respondendo por 43pc dos embarques. Houve também exportações para a China, Indonésia, Tailândia, Espanha e Nova Zelândia.

Além disso, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) divulgou a autorização para exportar DDG brasileiro para Colômbia e Marrocos em setembro. Isso faz parte das tentativas do governo nacional em promover globalmente a cadeia do etanol como uma alternativa para os combustíveis fósseis nas iniciativas de transição energética.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a Unem também firmaram uma parceria em 2023 para impulsionar os embarques de DDG até 2025, apresentando o produto como uma alternativa eficiente de alta proteína para a produção de ração animal.

RC: Então, considerando essas aberturas recentes de mercado para a exportação brasileira de DDG, é possível que a curto prazo já possamos ver a importância do Brasil aumentando nesse setor. Vamos ficar de olho para não perder as próximas movimentações desse novo mercado. Obrigada pelas informações, Maria!

Esse e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com/falando-de-mercado.

Visite a página para seguir acompanhando os acontecimentos que pautam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Voltaremos em breve com mais uma edição do “Falando de Mercado”. Até logo!