RC: Olá e bem-vindos ao ‘Falando de Mercado’ – uma série de podcasts trazidos semanalmente pela Argus sobre os principais acontecimentos com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Renata Cardarelli, editora da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes, e no episódio de hoje, converso com Nathalia Giannetti, repórter da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes, sobre a colheita de uma área recorde de algodão nesta temporada 2023-24 no Brasil.
RC: Bem-vinda, Nathalia! Para começar, você poderia nos dizer de quanto será esse recorde e como ele se compara com o total semeado em ciclos anteriores?
NG: Claro, Renata. A Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab, projeta que agricultores brasileiros devam colher um pouco mais que 1,94 milhão de hectares de algodão na safra 2023-24. Isso representa uma expansão de mais de 280 mil hectares em relação à temporada passada, que tinha semeado a mesma área recorde de 2019-20.
RC: É um aumento bastante expressivo, Nathalia. Onde essa expansão de área plantada está acontecendo? E o que tem impulsionado esse avanço da área semeada?
NG: O estado de Mato Grosso, que produz 73pc safra de algodão em pluma do Brasil, concentra praticamente toda essa expansão.
Tanto a Conab quanto o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, o Imea, estimam que o estado semeou cerca de 1,4 milhão de hectares nesta temporada, uma expansão de aproximadamente 200 mil hectares em relação à safra 2022-23.
Esse aumento de área plantada acontece principalmente devido aos menores custos de produção do algodão na temporada 2023-24. O Imea estima que os custos para cultivar algodão no estado caíram 21,5pc em relação ao ciclo 2022-23, refletindo o recuo de 36pc dos custos com fertilizantes, na comparação com a última temporada.
RC: Interessante, Nathalia. Áreas destinadas ao cultivo do algodão são preparadas com a aplicação de fertilizantes nitrogenados por volta de dezembro. Então, as compras devem ser feitas já no segundo semestre do ano. Quais eram os preços dos fertilizantes nesta época em 2023 e um ano antes?
NG: Isso mesmo, Renata. As compras para semear o algodão a partir de dezembro acontecem principalmente em agosto e setembro. O preço médio da ureia na base cfr encerrou agosto de 2023 em $348/t. Isso se compara a um preço médio de $625/t em agosto de 2022.
RC: Houve uma grande queda mesmo, Nathalia. E essa redução acentuada nos custos de produção fez com que agricultores preferissem cultivar algodão em vez de investir no cultivo do milho, por exemplo?
NG: Com certeza, Renata. O milho também é uma cultura que dependente de nitrogenados para a adubação, mas o custo de produção do grão recuou 1pc na safra 2023-24 em Mato Grosso na comparação com a safra anterior.
Cabe ressaltar, Renata, o fator da baixa rentabilidade do milho na última temporada. O excesso de oferta global tem pressionado os preços internacionais do milho para patamares que muito semelhantes aos custos de produção. Por exemplo, o Imea estima que a saca de milho da safra 2023-24 tenha que ser negociada a R$ 38,36 para cobrir o custo de produção, enquanto a saca de milho é comercializada em torno de R$ 37,55 em Mato Grosso.
Outro ponto que favoreceu a safra de algodão 2023-24 foi o impacto do fenômeno climático El Niño sobre as áreas de soja semeadas entre setembro e dezembro de 2023. As condições extremas de seca fizeram com que quase 6pc das áreas de soja precisassem de replantio. Mas aqueles agricultores que já tinham a intenção de semear algodão como segunda safra decidiram abandonar a soja em áreas danificadas para ampliar o investimento no algodão.
Com isso, a safra de algodão foi semeada majoritariamente durante a janela de plantio ideal, enquanto a soja também teve o ciclo antecipado devido à estiagem.
RC: Imagino que a semeadura dentro da janela ideal deve também ter impulsionado as estimativas de produção para a safra 2023-24 de algodão. Qual é a atual projeção para a safra 2023-24, Nathalia?
NG: A Conab projeta que o Brasil deve produzir um pouco mais de 3,6 milhões de toneladas de algodão em pluma nesta temporada, um aumento de quase 15pc no ano. Já o Imea estima que a produção de algodão em pluma de Mato Grosso seja de 2,6 milhões de t, um crescimento de 12pc no ano.
A primeira estimativa da Conab para a temporada nacional de algodão era de aproximadamente 1,7 milhão de hectares semeados e 3 milhões de toneladas produzidos. A estimativa inicial para a produção na safra 2023-24 era 5,3pc mais baixa que os volumes da safra 2022-23.
RC: Agora, vamos falar um pouco sobre a demanda, Nathalia. Para onde serão destinados esses volumes? Qual é a perspectiva?
NG: A maior parte da produção de algodão do Brasil tem como destino a exportação. A projeção mais recente da Conab é 2,8 milhões de toneladas exportados neste ano.
O volume supera em 1,2 milhão de toneladas os embarques de 2023 e em aproximadamente 800 mil toneladas o atual recorde, registrado na safra 2019-20.
Essas perspectivas favoráveis para as exportações brasileiras também são impulsionadas por projeções de maior demanda internacional por algodão em 2024, devido a um crescimento esperado da economia global, especialmente por parte da China.
RC: A China é o maior importador de commodities brasileiras quando pensamos em soja e milho. Isso também vale para o algodão, Nathalia?
NG: Vale sim, Renata. A China recebeu 48pc do 1,6 milhão de toneladas exportado ano passado, de acordo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil, o MDIC.
No primeiro semestre de 2024, o Brasil exportou 1,4 milhão de toneladas de algodão, dos quais mais de 41pc foram para a China.
O pico das exportações de algodão do Brasil costuma acontecer no segundo semestre do ano, após a conclusão da colheita. Os trabalhos de campo para a safra 2023-24 de algodão atingiram 76,1pc da área semeada nacionalmente até 26 de agosto, segundo a Conab.
RC: Então, podemos esperar que os embarques de algodão sigam aumentando nos próximos meses e, quem sabe, novos aumentos nas perspectivas de embarques para a safra 2023-24. Muito obrigada pela participação, Nathalia!
Esse e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com/falando-de-mercado.
Visite a página para seguir acompanhando os acontecimentos que pautam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Voltaremos em breve com mais uma edição do “Falando de Mercado”. Até logo!