Falando de Mercado: Mudança no fluxo de gasolina para o Brasil

Depois de se consolidar como fornecedor de diesel, a Rússia começa a se destacar nas importações de gasolina pelo Brasil. Ofertas do produto estão chegando aos compradores brasileiros, que veem preços mais baixos em relação aos fornecedores tradicionais, como Estados Unidos e Europa.

Neste episódio, a editora associada da publicação Argus Brasil Combustíveis, Gabrielle Moreira, e o chefe adjunto de redação da Argus no Brasil, Conrado Mazzoni, conversam sobre o cenário competitivo e de preços no mercado de importação de derivados de petróleo.

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Conrado Mazzoni: Olá. Bem-vindos ao Falando de Mercado, uma série de podcasts trazidos pela Argus sobre os principais acontecimentos com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Conrado Mazzoni, chefe adjunto de redação da Argus no Brasil, e no episódio de hoje eu converso com Gabrielle Moreira, editora associada da publicação Argus Brasil Combustíveis, sobre os atuais obstáculos que os importadores de derivados de petróleo estão enfrentando nas negociações. Bem-vinda, Gabrielle.

Gabrielle Moreira: Obrigada, Conrado. Que bom voltar ao Falando de Mercado.

CM: Gabrielle, depois de entrar no mercado brasileiro de diesel, a Rússia agora também se torna um importante fornecedor de gasolina para o Brasil?

GM: Tenho a impressão de que sempre que venho aqui falar com vocês é sobre Rússia, Conrado! Mas é isso aí, parte das importações de gasolina do Brasil está vindo da Rússia, sim. A Rússia foi responsável pelo envio de pouco mais de 51pc dos quase 128.000m³ que o Brasil importou em abril. Até então, os volumes que saíam da Rússia eram praticamente nulos. Esses dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. A participação da Rússia foi tão expressiva, que ultrapassou o volume originado na Europa, de onde tem vindo a maior parte da gasolina que importamos. Em abril, foram aproximadamente 34pc saindo da Europa, mais especificamente da Holanda.

CM: E o que motivou a entrada da Rússia nesse fluxo?

GM: Preço! Os russos começaram a ofertar gasolina neste ano e vimos até um navio boiando na costa brasileira, sem comprador, mais no início do ano. No início, nossas fontes comentaram que as ofertas de venda não eram muito abaixo dos preços das cargas que saíam do Golfo Americano ou da Europa. O que estamos vendo agora é que o preço da gasolina russa é pelo menos 5 centavos de dólar por galão norte-americano abaixo do preço da carga dos Estados Unidos e do eixo que chamamos de ARA, Amsterdã, Roterdã e Antuérpia. E quando eu falo que são pelo menos 5 centavos é porque essa diferença nem sempre é suficiente para atrair o interesse do importador. De um tempinho para cá, nós estamos vendo muitas ofertas de gasolina russa a 10 centavos abaixo do preço do ARA. E aí sim, fica difícil competir. Enquanto tem comprador que vê vantagem suficiente com preços 5 centavos mais baratos, tem importador que diz não considerar carga russa de gasolina com menos 10 centavos de diferença para o ARA.

CM: E tem uma explicação para justificar esse mínimo de 10 centavos para ser vantajoso?

GM: Cada um faz uma conta diferente, tem uma necessidade de suprimento adicional diferente, então fica difícil traçar um valor simbólico para separarmos as ofertas favoráveis das desfavoráveis. Mas o que nossas fontes explicaram foi que o custo da demurrage, dos tempos de espera dos navios nos portos para atracar, varia de acordo com o porto de origem do navio. O que ouvimos de traders, do pessoal dos portos e até fontes nossas que são economistas, não tem uma regra padrão para todos, então esse custo pode incluir ou não incluir a origem. Mas, considerando que o navio com gasolina russa vai atracar em um porto com uma longa fila de espera, a última coisa que o importador quer é ter o custo ainda mais elevado. E vamos lembrar que o frete da Rússia é mais caro que o do ARA ou dos EUA por causa da distância.

CM: Mas a Rússia não tinha proibido as exportações de gasolina?

GM: Tinha sim, o governo russo proibiu as exportações a partir de 1º de março. Mas isso não impediu que as ofertas continuassem acontecendo e que os navios de gasolina partissem de lá para cá. Ouvi de diversos importadores do Brasil que os refinadores estão sim ofertando gasolina e que não diminuíram as ofertas nesse período. Bom, prova disso é que chegou gasolina aqui em abril. Outra coisa é que alguns navios saíram de lá e estavam estacionados em outros lugares, como Espanha, para depois seguirem para cá. Também tem navio saindo de lá como nafta, mas carregando gasolina. Tem de tudo um pouco e esse produto continuou chegando aqui em maio.

CM: E a participação da Rússia em maio continua tão grande como em abril?

GM: Parece que não, mas isso não quer dizer que deixou de ser expressiva. Em maio, a estimativa é de importações de aproximadamente 210.000m³ de gasolina e componentes. Uns 96.000m³ partiram da Holanda, o que representa 46pc e 51.000m³ da Rússia, o que leva a uma participação de uns 24,5pc. Esses dados são da Vortexa. Quando analisamos os números de maio vemos sim uma diminuição, mas isso não quer dizer que os refinadores russos não querem mais ganhar espaço. E dado o que observamos no diesel, os refinadores russos estão bem interessados no mercado brasileiro.

CM: Os importadores estão mais dispostos a negociar gasolina russa? Existe alguma restrição de compliance ou questões com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, a ANP?

GM: Ao que tudo indica, essa gasolina atende às especificações da ANP. Acho que seria difícil alguém comprar carga e assumir esse risco. Sobre disposição, sim, vemos o comprador interessado. Mas quando falamos de Rússia, pela relação recente que temos com esse mercado, importadores estão sempre em contato com mercados vistos como mais seguros, que são os da Europa e dos Estados Unidos. No caso do diesel, por exemplo, o volume de produto russo é enorme, perto de 80pc, mas tem esses 20pc que estão distribuídos entre outros países, incluindo os Estados Unidos, mesmo que seja uma fração pequena. No início de maio, o CEO da Vibra, Ernesto Pousada, afirmou que a empresa estabeleceu um processo de compliance, governança e expertise que os permite importar de qualquer região. Ele disse isso na teleconferência de resultados da Vibra, em um momento que importadores estão avaliando as ofertas de gasolina da Rússia. Todos buscam preços mais baixos e se os refinadores da Rússia atendem às especificações, possivelmente veremos mais deles por aqui. Outra coisa que anda rolando é a intenção da Rússia em entrar na distribuição do mercado brasileiro. Quem sabe a gente grava outro podcast sobre o assunto em breve, Conrado.

CM: Obrigada, Gabrielle. Vamos continuar acompanhando os desdobramentos do mercado de diesel no Brasil. Esse e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com/falando-de-mercado. Visite a página para seguir acompanhando os acontecimentos que pautam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Voltaremos em breve com mais uma edição do “Falando de Mercado”. Até logo!