• 24 de outubro de 2024
  • Market: Metals
Os principais produtores de aço brasileiros têm relatado no último ano uma pressão significativa das importações em seus mercados. Com isso, o governo tem monitorado de perto este aumento, tomando medidas para proteger o mercado da concorrência desleal. No entanto, as importações não param de crescer. Junte-se a Camila Dias, chefe do editorial da Argus para América Latina, e Carolina Pulice, repórter de metais da Argus. Elas conversam sobre os desafios do mercado para o próximo ano.

Ouça agora

Transcript

Camila Dias: Olá e bem-vindos ao ‘Falando de Mercado’ – uma série de podcasts trazidos semanalmente pela Argus sobre os principais acontecimentos com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Camila Dias, eu sou chefe do editorial da Argus para América Latina. No episódio de hoje, eu converso com Carolina Pulice, repórter de metais da Argus no Brasil, e falaremos sobre o mercado de aço no Brasil e seus desafios para o próximo ano.

Bem-vinda, Carol.

Carolina Pulice: Obrigada, Camila. É um prazer. Estou sempre à disposição para falar do mercado de aço com você e com todos que estão nos ouvindo.

CD: Carol, queria te ouvir primeiramente sobre o mercado de produção e consumo de aço no Brasil. Quem produz e quem consome aço no país?

CP: Vou começar com alguns dados interessantes sobre o mercado brasileiro.

O Brasil conta atualmente com 31 usinas produtoras de aço, com uma capacidade instalada de 51 milhões de toneladas de aço bruto por ano. Empresas como Gerdau, ArcelorMittal, Usiminas, CSN e Ternium estão entre as maiores produtoras de aço do país.

Em 2023, o Brasil produziu 32 milhões de toneladas de aço bruto, de acordo com dados da instituição Aço Brasil, o que indica que essas usinas operaram em média com apenas 63% de sua capacidade total.

O nosso consumo per capita gira em torno de 110kg de produtos siderúrgicos por habitante, um consumo que tem se mantido relativamente estável nas últimas décadas.

O Brasil está entre os 10 maiores produtores de aço do mundo, sendo o único representante da América Latina neste ranking, segundo dados da Organização World Steel, e por isso a importância de falar sobre este metal por aqui.

CD: Mas, Carol, mesmo com essa relevância do mercado siderúrgico, por que o Brasil ainda importa tanto?

Pois é. Apesar da tradição de produzir aço para o mercado interno e externo, os produtores de aço brasileiros têm relatado uma pressão significativa das importações.

De janeiro a agosto deste ano, as importações cresceram quase 25% em comparação ao mesmo período de 2023, totalizando 3,9 milhoes de toneladas.

O governo tem monitorado de perto este aumento. No semestre passado, o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior anunciou o aumento de tarifas sobre alguns produtos de aço importados pelo país. O principal foco da medida seria diminuir a entrada de produtos vindos principalmente da China.

O governo delineou uma tarifa de 25% sobre a parcela das importações que excede as cotas de volume. As medidas têm como principal objetivo proteger a produção doméstica e evitar uma concorrência desleal.

A China produziu pouco mais de 1 bilhão de t de aço em 2023, sendo o maior produtor do metal no mundo.

Com a desaceleração do mercado interno chinês, muitas usinas siderúrgicas locais passaram a buscar mercados externos para seus produtos. O mercado chinês, vale lembrar, representa um terço do setor industrial do mundo inteiro, segundo dados da Coalizão Indústria no Brasil.

Além disso, são vários os casos sendo investigados sobre supostas práticas de dumping de aço pela China, com novas investigações em curso e outras, que datam mais de cinco anos, sendo possivelmente renovadas.

O Brasil não está sozinho na tentativa de proteger seu mercado. Outros países latino-americanos, como o Chile e o México, também anunciaram tarifas e outras medidas contra o aço chinês para reduzir as importações e o dumping nos seus territórios.

 

CD: E o que o mercado fala a respeito desta situação?

CP: De um lado, vemos os compradores alegando que a diferença de preços entre o produto importado e o produto nacional é muito grande. Para alguns materiais, como a bobina laminada a quente, ou BQ, o prêmio é de mais de 10%, sem contar impostos.

Por outro lado, os produtores alegam diversos desafios que tornam a competição desbalanceada, como o conhecido custo-brasil, que inclui tributação e outras complexidades do mercado brasileiro, e a competição desleal com o mercado chinês.

A vantagem do material doméstico seria a entrega mais rápida do que o material importado, além de certificações importantes para garantir a segurança e durabilidade dos materiais. Este tema é um pouco mais complexo, porque há quem diga que o mercado chinês já consegue fornecer materiais com estas garantias, mas que também há a entrada de metais sem certificados no mercado brasileiro, justamente por conta dos seus preços mais baixos.

CD: Diante deste cenário, quais são os desafios para o mercado no próximo ano?

CP: Muito se especula sobre quais serão as medidas tomadas pelo governo federal para conter este aumento da entrada de importados no país. Alguns esperam novas investigações antidumping, outros acreditam que o governo pode revisar as tarifas e seus sistemas de cotas sobre os produtos importados.

O grupo Aço Brasil já tinha sinalizado que ia monitorar de perto as novas tarifas anunciadas pelo governo para ver se elas de fato eram eficazes.

Do lado de cá, resta saber se as usinas locais vão ter espaço para reajustar preços e se o mercado consumidor de produtos domésticos vai aceitar.

Ouvimos que já foram reportadas algumas tentativas de aumento de preço ao longo dos últimos meses por parte das principais siderúrgicas brasileiras. Mas muitas vezes elas não foram adiante por conta das reações negativas do mercado.

O Aço Brasil estimou em junho que o país importaria mais de 4,6 milhões de t de aço em 2024.

Ao mesmo tempo, se espera que o país produza 32,2 milhões de t, (menos de 1% a mais) 0,7% a mais que no ano passado.

CD: Pois é, muito assunto para acompanharmos, então gostaria de terminar esse episódio para falarmos um pouco da novidade que temos nos relatórios da Argus em relação ao aço comercializado no Brasil...

CP: Além da nossa cobertura de preços e movimentos do mercado de aço na Europa, Ásia e Estados Unidos, agora estamos expandindo nossos relatórios para o Brasil.

Teremos um acompanhamento de preços da bobina a quente produzida no país, com preços domésticos, e também do produto importado da China que chega ao país.

 

CD: Que bacana, Carol! Você pode explicar o que é a bobina?

CP: Claro!

A bobina laminada a quente, ou BQ, é um aço carbono que passa por um processo de laminação, e portanto se chama aço plano. As bobinas podem ser usadas em diversos setores, como os de distribuição, de construção civil, máquinas e equipamentos, autopeças, máquinas agrícolas e tubos.

Em 2023, o Brasil produziu 4 milhões de toneladas de bobinas a quente, mas também importou quase 430 mil toneladas no mesmo período, mais de 3 vezes o volume do que foi importado em 2022, de acordo com dados da Aço Brasil.

Por isso decidimos lançar os preços semanais tanto dos importados quanto dos produtos domésticos, uma vez que a avaliação dos preços dos produtos nacionais e importados ajudará os participantes no mercado a monitorar esta situação volátil e em evolução.

Nossos relatórios de preço serão semanais e contarão com um comentário de mercado contando sobre os principais insights que ouvirmos do mercado naquela semana.

 

CD: Carol, muito obrigada pela sua participação.

Esse e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com/falando-de-mercado.

Visite a página para seguir acompanhando os acontecimentos que pautam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Voltaremos em breve com mais uma edição do “Falando de Mercado”. Até logo!