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João Petrini: Olá, e bem-vindos ao falando de mercado, uma série de podcast trazida semanalmente pela Argus sobre os principais acontecimentos, com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo.

Meu nome é Joao Petrini, repórter sênior de grãos e fertilizantes da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes. No episódio de hoje, converso com Adriano Espeschit, presidente da Potássio do Brasil, sobre o mercado de fertilizantes. Olá, Adriano, seja bem-vindo.

Adriano Espeschit: Muito obrigado, João. É um prazer estar aqui com você.

JP: Bom, vamos falar sobre um dos assuntos do momento no setor de fertilizantes, que é o projeto de Autazes no estado do Amazonas. Qual que é o status do projeto nesse momento? Quantas licenças de instalação a Potássio do Brasil já recebeu e quantas ainda faltam?

Adriano: João, na realidade, nós já fomos agraciados com as licenças de instalação da mina, da usina, do porto e do terminal de carregamento de potássio, e a gente vai iniciar as obras em breve. Já estamos com os pedidos de cotação de vários dos serviços iniciais. Vamos iniciar, logicamente, pelos serviços preparatórios, né? Que é captura da fauna, é de arqueologia, de supressão da vegetação e logo na sequência vamos começar com as terraplanagens, aproveitando o período de seca, que vai dar início agora na Amazônia.

JP: Maravilha, Adriano e dando sequência, nesse ponto que você mencionou sobre fauna, preservação. É um projeto que gera um debate sobre questões sociais e ambientais, inclusive uma das licenças de instalação estabelece algumas condições relacionadas, justamente à flora e à fauna da região. Quais as iniciativas da Potássio do Brasil para mitigar ao máximo os possíveis impactos?

Adriano: O nosso projeto foi sabatinado pelos técnicos do Ipaam, que fizeram um trabalho sensacional em cima de todos os aspectos que apresentamos e nós temos mais de 30 programas socioeconômicos e ambientais, que endereçam todas essas questões. Então essa captura da fauna, por exemplo, é um trabalho preventivo de coleta, manuseio e transporte desses animais que vão ser capturados lá na região onde vai ser o projeto. Outro exemplo, a nossa estrada que vai ligar a mina ao porto, ela tem 12km e ela vai ter várias passagens tanto superiores quanto inferiores para os animais da região, mantendo assim, a migração possível de todos eles. Então é um trabalho que está sendo feito de forma bastante integrada com as áreas ambientais do órgão estadual no caso, o Ipaam, Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas, com vários tipos de melhoria causados até por essa interação entre os técnicos da Potássio e os técnicos do Ipaam.

JP: Muito bacana, Adriano. E você mencionou essa relação com os órgãos. Como que é a relação da Potássio do Brasil com o governo estadual do Amazonas, o governo federal, e com outros órgãos e autoridades. Existe algum trabalho conjunto para expansão e desenvolvimento da região Norte do país?

Adriano: Na realidade, desde o novo governo estadual, que é o segundo mandato do governador Wilson Lima, ele colocou entre os pilares que o potássio estaria entre eles, além do gás, do turismo e da biodiversidade. Então, com certeza é uma opção ao estado do Amazonas em termos de diversificação da matriz econômica, que hoje é muito lastreada em cima da Zona Franca de Manaus, no Polo Industrial que existe em Manaus. É lógico que tem essas outras iniciativas, mas com certeza a geração de oportunidades de emprego é de atividades fora da Zona Franca de Manaus. Pelo projeto Autazes é uma consideração bastante forte. Com isso, a gente pode garantir que a gente tem todo o suporte, tanto do governo municipal quanto do governo estadual e, mais do que isso, como citado por você, do próprio governo federal, tendo em vista que até mesmo iniciativas, por exemplo, do plano nacional de fertilizantes, e se encaixam exatamente com as necessidades do projeto potássio Autazes e como algumas das metas colocadas para 2030 neste citado plano.

JP: Adriano, você mencionou também a questão de uma rodovia, para ajudar e contribuir na preservação da flora e da fauna. E em relação à questão logística, uma das licenças seria para a construção de um de um porto. Além disso, para escoamento da produção é de Autazes, quais os principais desafios logísticos para o projeto?

Adriano: O desafio é fazer uma manutenção do que já é o normal da Amazônia, que são as hidrovias. Hoje elas são muito utilizadas tanto pela soja quanto pelos grãos, quanto também pelos fertilizantes que chegam ao Brasil pelo Arco Norte. Então hoje, a gente tem a condição de pegar, inclusive uma excelente vantagem, que é o chamado frete de retorno, porque a soja sobe para o Norte, descendo o rio Madeira de barcaças. E essas barcaças retornam vazias, e elas vão passar exatamente na porta do nosso porto em Urucurituba, então nós vamos ter a chance de estar aproveitando esse benefício do frete de retorno e com isso gerando até menos gases de efeito de estufa queimados pelo uso do diesel no transporte desse tipo de material. Mais um item de sustentabilidade do nosso projeto.

JP: Perfeito, Adriano. E pensando em atender a demanda dos produtores do mercado brasileiro, Mato Grosso seria realmente o maior recebedor da produção de Autazes. Como vocês enxergam isso? E quais outras regiões também produtoras vocês visam atender de maneira predominante com a produção de Autazes?

Adriano: A primeira fase do projeto potássio Autazes, ela está focando 100pc no Mato Grosso. É lógico que, como a nossa produção, ela vai ocorrer daqui a 4 anos, aproximadamente, essa própria questão do Mato Grosso, ela já pode ter sofrido algum tipo de movimentação e essa movimentação, que tem uma expectativa que vocês acompanham aí com certeza é o crescimento até de próprio Rondônia, que tem crescido no agronegócio. O próprio sul do Amazonas tem crescido ali na região de Apuí e, com certeza, daqui a 4, 5 anos a gente vai poder dizer que nós não vamos conseguir nem chegar no Mato Grosso, porque uma parte desse fornecimento vai ficar no sul do Amazonas ou até mesmo em Rondônia. Porém, o nosso foco é realmente o Mato Grosso.

JP: E quais as expectativas sobre o projeto de Autazes? Quando que a mina deve estar operacional? E qual deverá ser a capacidade de produção e também quais as características do cloreto de potássio que será produzido, inclusive pensando em termos de concentração de nutrientes?

Adriano: Vamos começar então pelo produto. O nosso produto será um MOP 95 standard, ou seja, com 95pc de KCl, que é o granulado pink, conforme as especificações de mercado tradicional. Então a gente não está trazendo nenhuma inovação tecnológica em termos do produto. Serão cerca de 2,2 milhões de t/por ano. Essa é a produção prevista, para daqui a 4 anos, 4 anos e meio, porque este é o tempo nosso de implantação do projeto. Nós temos que construir 2 poços profundos para atingir o minério que está a cerca de 800m de profundidade e o caminho crítico do projeto em termos de implantação é esse. A escavação dos shafts ou poços profundos para atingir o minério.

JP: Entendi, Adriano. E baseado nesses dados que você trouxe, falando um pouco agora sobre é o cenário de fertilizantes do Brasil. O Brasil depende de cerca de 85pc de importação de fertilizantes. Qual a expectativa da Potássio do Brasil com relação à redução dessa dependência externa que nós temos?

Adriano: Então eu vou falar mais especificamente não dos fertilizantes, mas do cloreto de potássio. Só no cloreto de potássio a nossa dependência é maior ainda, é cerca de 98pc. Nós só temos uma mina em operação no Brasil, que é a mina de Taquari-Vassouras, na cidade de Rosário do Catete, em Sergipe, hoje operada pela Mosaic, e que ela só tem algo em torno de 300.000t de produção, da nossa necessidade de cerca de 13 milhões de t. Então com as 2,2 milhões de t, a gente vai chegar próximo dos 17pc de redução dessa dependência que somado a esses dão 23pc. A gente fala que em torno de 20pc nós vamos deixar de ser dependentes, ou seja, hoje nós somos dependentes em 98pc. A gente vai passar para algo em torno de 80pc, mas a Potássio do Brasil, como eu disse, tem intenções de fazer outras fases e duplicar essa produção e até mesmo triplicar essa produção no futuro. Mas a longo prazo.

JP: Adriano, e além de Autazes, a Potássio do Brasil tem outros investimentos em vista para o mercado brasileiro também?

Adriano: Nós temos outros projetos no pipeline na região. Um deles, em Novo Remanso, no município de Itacoatiara. E o outro em Itapiranga, no próprio município de Itapiranga.

JP: Trazendo um pouco a questão sobre o cenário deste ano que a gente tem visto no mercado de fertilizantes buscando ouvir a sua opinião e a sua visão. A gente tem visto uma aceleração da demanda por fosfatado no mercado brasileiro. Já para o cloreto de potássio, a demanda tem sido mais reduzida, refletindo a importação elevada nesses primeiros meses do ano. Quais as perspectivas para o mercado brasileiro de fertilizantes nesse terceiro trimestre? Como você enxerga o cenário?

Adriano: O balanço é das necessidades de nutrientes em cada uma das plantações. Ele é definido em função até das questões da própria safra e da entressafra. Então a gente tem que ver aí o desenrolar do clima. No excesso de chuvas no Rio Grande do Sul, que afeta ali localmente, mas que impactou no todo. Então a gente vai ter aí um ajuste normal disso. Trazendo de volta questões de demanda, outra situação é a própria questão da oferta que a gente vai ter que ver como que ficam questões relacionadas a pendências que a gente ainda tem, como por exemplo, as sanções econômicas. A Bielorrússia, no caso novamente do cloreto de potássio ou eventualmente até dessa questão que a guerra da Ucrânia com a Rússia, apesar de ainda estar acontecendo, não tem mais interferido, tanto na logística daquele país para o Brasil.

JP: Adriano, perguntando também uma questão sobre o custo. O produto brasileiro, comparado com o custo do produto, que vem importado, como que você analisa essa situação no mercado atual brasileiro?

Adriano: João, o projeto de Autazes ele tem basicamente três vantagens em relação ao produto importado e as três vantagens são muito simples de se explicar para os nossos ouvintes, que é localização, localização e localização. Então, assim nós estamos ali na foz do rio Madeira, no Amazonas, com uma logística extremamente vantajosa, é o nosso produto. Ele tem um custo de produção similar ao custo de produção dos produtos dos nossos concorrentes no exterior, mas a gente tem a vantagem da logística. A gente não precisa transportar o nosso produto por mais de 2.500km de trem e depois, por mais de 10.000km por navio. Com isso, o nosso custo entregue no Mato Grosso é menor, o nosso custo total entregue no Mato Grosso é menor do que o custo de transporte de um produto canadense ou russo, por exemplo. Então assim, não tem vantagem maior para um projeto do que esse para atender inclusive uma demanda que não é uma demanda de governo. É uma demanda de estado da nossa condição brasileira aqui em termos de ter um agronegócio tão pungente e com essa dependência toda dos produtos importados.

JP: Adriano, você tinha falado sobre uma menor emissão de gases estufa na questão logística, aproveitando o frete de retorno das barcaças. Tem alguma outra questão de sustentabilidade que vocês estão olhando? Até por ser uma mineração, olhar para a questão de resíduos e produzir algum tipo de subproduto? Você enxerga um pouco de possibilidade também explorar outros produtos nessa linha de fertilizantes sustentáveis?

Adriano: [17:17] Excelente pergunta, mas antes disso, de explicar outros produtos ou coprodutos, eu vou voltar a questão da sustentabilidade do nosso projeto. Nosso potássio, é o potássio mais verde produzido no mundo. Não existe condição de bater o nosso projeto porque, simples, nós estamos ligados na matriz energética brasileira, que é 84% renovável, enquanto no Canadá e na Rússia eles queimam gás e queimam carvão para gerar energia elétrica. Só pra vocês terem uma ideia, isso dá quase 2 milhões de t de carbono equivalente a menos que o nosso projeto vai gerar por ano. Então, assim é com certeza uma mineração sustentável, é uma produção de fertilizante extremamente sustentável. Nosso potássio apesar de ser pink, ele pode ser considerado como verde. Agora em questão dos nossos resíduos, que são basicamente o NaCl, cloreto de sódio, as três vantagens que eu falei em relação ao produto, nós temos em desvantagem em relação ao cloreto de sódio, que é localização, localização e localização. Nós estamos longe do mercado consumidor e nós estamos sem ainda uma perspectiva de potencial utilização desse produto, mas a gente não desistiu ainda. Nós estamos avaliando novamente estudos que nós fizemos em 2015-2016 para ver se ainda a gente consegue fazer algum tipo de utilização desse produto melhor, no caso desse subproduto. [19:03]

JP: Também na questão logística, a Potássio do Brasil já fez algumas parcerias, né? Você poderia falar um pouco sobre esses acordos e até sobre futuras e potenciais parcerias com companhias importantes brasileiras?

Adriano: [19:50] A Potássio do Brasil já realizou alguns acordos, relacionados tanto à venda dos seus produtos quanto à logística, do seu transporte. Todos estes acordos até o momento foram feitos com o grupo Amaggi, que já adquiriu cerca de 500.000t de cloreto de potássio por ano por um período superior a 15 anos. Além disso, nós já fizemos um acordo com uma empresa do grupo Amaggi, que é a Hermasa, que é a empresa que faz toda a logística fluvial para o grupo, então todo o nosso produto será transportado do nosso porto em Urucurituba até Porto Velho ou até Miritituba, no Pará, para poder ser transportado de lá para o Mato Grosso. Então também este é um acordo que nós já fechamos com a Amaggi. [20:50]

JP: Você falou de localização, Adriano, quando a produção for iniciada, quanto tempo deve demorar para entregar o produto em Mato Grosso, por exemplo?

Adriano: [24:56] Quando você faz uma aquisição de um produto no Canadá ou na Rússia, chega a demorar em média, 107 dias para ele chegar no Mato Grosso, o nosso chega em 5. Então, é mais uma vantagem da das questões de logística que a gente vai ter. Lógico que tem a sazonalidade, de safra, que vai interferir de outras formas também. Eu vou ter que ter uma produção e uma entrega constante do meu produto, porque se não eu paro a mina. [25:36]

JP: Aproveitando outro ponto de logística, a questão de armazenagem. Como vocês vão trabalhar com armazéns em Autazes e nos portos?

Adriano: [25:49] A umidade da Amazônia, ela é prejudicial pra você manter estoques mais próximos de lá, então a nossa estratégia será para poder tirar o mais rápido possível de lá e manter estoques mais próximos do mercado final. [26:05]

JP: Muito bacana, Adriano! E para finalizar, tem mais algum ponto que você acha interessante compartilhar sobre o Projeto Autazes?

Adriano: [28:15] Bom, pessoal, a Potássio do Brasil tem um compromisso, que é de estar implementando mais de 30 programas socioeconômicos, ambientais e alguns deles são focados na utilização da mão de obra local da região. Nós temos o compromisso de 80pc da nossa mão de obra durante a operação ser local e para isso nós vamos estar investindo em capacitação de pessoal na região. Isso também já vai gerar uma movimentação muito importante com a geração de cerca de 1.300 postos de trabalho diretos e mais de 15.000 postos de trabalho indiretos, fazendo com que a economia da região, ela sofreu uma mudança baseada nessa nova matriz econômica que vamos estar implantando em Autazes.[29:09)

JP: Muito obrigado. Esse foi Adriano Espeschit, presidente da Potássio do Brasil. Esse e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com/falando-de-mercado. Visite a página para seguir acompanhando os acontecimentos que pautam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Voltaremos em breve com mais de uma edição do “Falando de Mercado”. Até logo!