Falando de Mercado: Projeto Serra do Salitre e oferta de fosfatados

Com uma dependência externa de mais de 85pc do fertilizante que consome, o Brasil segue procurando alternativas para elevar sua independência. A produtora Eurochem inaugurou em abril o projeto Serra do Salitre, em Minas Gerais, que deve contribuir para o Brasil reduzir a necessidade de importação de fosfatados. Já neste ano, a companhia deve fornecer TSP e SSP para a safra 2024-25 de soja.

A repórter do relatório Argus Brasil Grãos e Fertilizantes Gisele Augusto e o diretor-presidente da Eurochem na América do Sul, Gustavo Horbach, conversam sobre as expectativas da nova unidade da empresa em Serra do Salitre e os desafios do mercado brasileiro de fertilizantes em meio ao ritmo lento de compras para a safra de soja.

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Transcript:

Gisele Augusto: Olá e bem-vindos ao falando de mercado, uma série de podcast trazidos semanalmente pela Argus sobre os principais acontecimentos, com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Gisele Augusto, repórter de grãos e fertilizantes da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes no episódio de hoje, converso com Gustavo Horbach, diretor-presidente da Eurochem na América do sul, sobre o mercado de fertilizantes. Olá, Gustavo, bem-vindo.

Gustavo Horbach: Obrigado, vai ser um prazer.

GA: Gustavo, o Brasil, hoje depende de cerca de 85pc da importação de fertilizantes. Com a inauguração do complexo de Serra do Salitre, em Minas Gerais, qual a expectativa da Eurochem com relação à redução da dependência externa?

GH: É esse número de 85pc de dependência externa, ele demonstra e deixa claro uma fragilidade que o nosso agronegócio tem aqui no Brasil. É impensável que a gente tenha uma área do nosso produto interno bruto, tão relevante, quase 30pc de participação aqui no Brasil, com tamanha fragilidade, numa dependência de um insumo tão crítico para essa produção. Serra do Salitre, ela tem 1 milhão de toneladas (t) de capacidade instalada de fertilizantes fosfatados, mas ela, embora seja, sem dúvida nenhuma, um passo no caminho da nossa certa independência, ele não vai resolver o problema da importação. O Brasil tem feito um esforço muito grande, suprapartidário, eu diria até supragovernamental, de ter políticas que endereçam isso. O Programa Nacional de Fertilizantes, que está sob a batuta do vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, tem feito algumas iniciativas nesse caminho. Salitre é talvez a mais clara delas, porque a gente tem uma produção local que vai da mina até a distribuição. E esse 1 milhão de toneladas vai reduzir esse mesmo número, esse mesmo volume de importações, mas outros investimentos são necessários. A gente enquanto empresa, a Eurochem, ela tem uma pegada eminentemente industrial. Somos uma empresa produtora, mas a ideia é que a gente tenha aqui no Brasil, além das 22 plantas de distribuição, a gente tenha, e além de Salitre, que é uma produção, a gente tenha no futuro cada vez mais um viés industrial. Esse é o nosso desejo. Não há outra maneira de fazer essa redução sem que a gente tenha uma localização da produção aqui no Brasil e para isso são necessários investimentos, e o governo federal, não só pelo PNF, mas também com iniciativa de fazer um grande estudo do subsolo brasileiro, que por coincidência foi assinado esse convênio no dia da inauguração de Salitre pelo ministro Alexandre Silveira, isso vai permitir que a gente tenha uma visão melhor dos minerais que a gente tem no Brasil para fertilizantes, que a gente tem muito pouco conhecimento do nosso subsolo para esse insumo. Então, são iniciativas que talvez no médio e longo prazo, caminhe no sentido de diminuir essa dependência absurda externo que a gente tem. Mas não tenho dúvidas de que serão necessários alguns anos, algumas décadas, para que a gente tenha um patamar que seja pelo menos mais confortável para o agronegócio aqui no Brasil.

GA: O projeto do Serra do Salitre recebeu mais de um bilhão de dólares em investimentos. Quais são as características desse projeto em termos de fertilizantes entregues ao mercado, o consumo de matérias-primas, por exemplo, a matéria-prima usada para a produção de vocês, ela é importada? Como funciona?

GH: É, na verdade, esse um $1 bilhão foram investidos, eles foram primeiro investidos com total caixa da empresa, a gente não teve nenhum investimento, nenhum aporte de dinheiro externo, seja de financiamento de bancos, seja de próprio fomento da indústria nacional, tipo BNDES, e esse volume de produção, ele está todo baseado localmente em Serra do Salitre. O que eu quero dizer com isso? Todos os insumos que vão ser usados na produção, eles vêm da própria localidade de Serra do Salitre. A gente tem uma mina de rocha fosfática, onde a gente tem um minério natural a 4pc de concentração de fosfato. A gente tem uma planta de beneficiamento que leva esse mineral, esse minério de 4pc para 33pc. A gente tem plantas químicas que, da reação desse concentrado fosfático com ácido sulfúrico fosfórico, a gente acaba efetivamente produzindo fertilizantes. Então, quando a gente diz que é um complexo que vai desde a mina até a distribuição, a gente fala e tem claramente de que ele é totalmente verticalizado. Todos os insumos necessários à produção dos fertilizantes são nacionais e oriundos da região de Serra do Salitre.

GA: Maravilha. E a unidade já foi inaugurada. Quais produtos o complexo já está entregando para o mercado?

GH: A gente fez uma inauguração, que foi uma inauguração simbólica, eu diria. Eu diria diferente, diria que ela foi dotada de um certo simbolismo, pelo tamanho e pela representatividade que a gente teve de autoridades. A gente teve lá o presidente da República, o vice-presidente, cinco ministros, alguns deputados federais, que mostram que, como eu falei antes, um caráter suprapartidário e supragovernamental de um assunto tão complexo e necessário como a indústria de fertilizantes tem. Fizemos a inauguração dia 13 de março e desde ali a gente está em um processo de ramp-up da planta, que é gradativamente atingir a capacidade instalada. Mas a gente já está produzindo SSP, que é o supersimples, TSP, que é o triplo simples, e estamos produzindo já um pouco de MAP também. Esses três produtos são os que a gente vai focar no ano de 2024. Eles são produtos simples que vão ser distribuídos diretamente da planta de Salitre ou de alguma outra localidade que a gente tem a distribuição. A escolha por ter esses três produtos no primeiro ano, ele se dá ao fato de que, primeiro, a gente quer ter uma certa agilidade na produção, fazer com que as plantas operem na sua totalidade de maneira muito simples e bastante alinhado com o que a gente espera, mas também são produtos que eles podem ser aplicados em qualquer região. A gente consegue, via nossa malha de distribuição, que é extremamente capilar, a gente consegue alocar esses produtos em qualquer região do país. Isso é um diferencial competitivo, sem dúvida, mas também faz com que a gente tenha em uma planta de produção, onde o grande driver é a gente tem uma produção constante e confiável, a gente tem alguns elementos de produtos de maior simplicidade que permitem que a gente tenha uma continuidade operacional acima dos 90pc, que é o que a gente precisa e pretende ter nesse primeiro ano.

GA: Gustavo, você comentou que o foco então para 2024 são esses três produtos. E depois, quais são os produtos que vocês estão planejando para o complexo?

GH: O complexo de Salitre, ele tem uma característica que, para nós, foi um dos diferenciais que nos levaram à aquisição e à sua conclusão em tempo recorde, que é uma enorme flexibilidade de produção. A gente tem plantas de SSP, plantas de TSP, plantas de MAP, mas a gente também tem uma capacidade de mistura instalada de 200 toneladas/por hora, que é uma capacidade, quando a gente olha outras misturadoras, inclusive nossos concorrentes, é uma capacidade bastante elevada. Isso faz com que a gente tenha aí no futuro uma capacidade, uma flexibilidade de atender determinadas regiões com produtos muito tailor made, muito com um design específico para algumas culturas. Isso sem dúvida nenhuma, vai ser levado em conta quando a gente analisar o mercado e quando a gente analisa a demanda que a gente tem na região própria.

GA: Pensando agora um pouquinho em economia, produção circular, a gente sabe que a produção do Salitre vai gerar alguns resíduos, né? Como por exemplo, gesso. A Eurochem planeja comercializar esses nutrientes para o mercado agrícola brasileiro? Quais são os planejamentos?

GH: O eu acho que a gente tem aqui uma discussão bastante interessante, porque a gente não chama gesso nem mais de resíduo, ele é um coproduto. Porque, para você ter uma ideia, o nosso gesto, ele tem um uso na agricultura, que é extremamente demandado pelos agricultores: correção de PH de solo e o nosso gesso é extremamente limpo. Tanto que a gente já tem uma produção que ela já está previamente vendida com offtake, a gente já tem isso acordado, então fertilizante é algo que, o resíduo, quando bem tratado, traz algumas possibilidades de coprodutos que a indústria de uma maneira geral, já vem explorando. A gente recentemente inaugurou em Israel um centro de pesquisa e desenvolvimento de fosfatos, a gente enxergou Israel com um potencial enorme, por questão de históricos em startups e tecnologia de ponta. Mas a nossa ideia é cada vez mais trabalhar, com que os resíduos de uma indústria como a nossa, e aí eu me não me refiro especificamente ao gesso, mas refiro ao que a gente tem lá de resíduos que vai para a barragem, que a gente tem de resíduos que saem dos nossos moinhos de concentração, que a gente tem algumas possibilidades, desenvolver alguns produtos que, embora não sejam, tão clássicos da nossa indústria, eles podem ter um papel interessante no dia a dia do nosso produtor. A gente tem alguns testes já que estão em andamento, inclusive com o Mapa, de alguns coprodutos de ter alguns minero-fertilizantes, de algo que para nós faz todo o sentido porque, nosso ponto de vista é que a melhor maneira de ter uma operação sustentável e embora a gente utilize aí 99pc de água de reciclo e a gente tenha todos os covenants, todas as condicionantes ambientais atendidas, a ponto de a gente ter tido a licença com recorde de antecipação, enfim, a gente estuda que a melhor maneira de ter uma operação sustentável é se a gente conseguir utilizar o máximo daquilo que a gente extrai da natureza. Então, se a gente está tirando rocha fosfática com 4pc e concentrando, tudo que a gente puder utilizar de resíduo, transformado em algum outro produto que faça sentido, a gente tem que investir algo nisso. E existe também um efeito colateral que, para nós é extremamente relevante, que quando você acaba tratando como produto o que seria resíduo, por exemplo, de uma barragem de rejeito como a nossa, você acaba por um lado, sem dúvida, como eu disse, utilizando ao máximo o recurso natural, mas por outro também diminuindo a necessidade de volume da própria barragem. Então você acaba tendo um equilíbrio nas duas pontas. Esse é o nosso desejo. Claro que é uma indústria que ela tem um break-even, tem uma condição de sustentabilidade financeira muito delicada, mas tudo aquilo que a gente puder fazer para fazer com que os nossos resíduos, sobretudo os que vão para a barragem, sejam reaproveitados em algum produto e que faça sentido para o nosso cliente final, a gente vai envidar todos os esforços.

GA: Maravilha, Gustavo. Agora passando um pouquinho para o mercado de fertilizantes, você pode comentar um pouco sobre o andamento da comercialização para a safra 24-25 de soja em termos de rodagem de adubo nos principais estados produtores, como vocês estão vendo esse mercado?

GH: A gente está vendo de uma maneira geral e não é só na Eurochem, não só nessa safra e também em todas as regiões, a gente está vendo um atraso na comercialização, que é notícia na imprensa e vocês sabem disso muito bem. Acho que o nosso produtor rural, isso é algo que eu coloco muito aqui dentro do nosso time comercial, nosso produtor rural ele tem cada vez mais ao seu dispor uma série de análises e conhecimento de mercado, e vocês são alguns que provem esse tipo de dado para eles, eles têm cada vez mais a capacidade de tomar as decisões mais cientificamente baseadas e com mais consciência. Então, o produtor hoje ele é um grande empresário de um negócio que ele é o dono. E empresário talvez seja a opção mais correta da palavra, porque a quantidade de risco que um produtor rural toma hoje no Brasil ela é inquestionável. Então, a gente enxerga esse retardo como uma análise de mercado que o produtor está vendo os preços no país ainda altos, vê que a tendência de mercado internacional é que esse preço talvez venha a ter alguma baixa e ele enxerga, e aí vai escolhendo qual a sua janela de compra baseada, obviamente, no quanto que ele enxerga a comercialização da sua produção futura. No momento, também os preços não são os mais atrativos, quando a gente compara com os anos mais recentes. Então, eu vejo que sim, o produtor rural, ele está atrasando as suas compras, acho que ele tem razões para fazer isso. O único ponto que eu coloco para os nossos times comerciais, para os próprios contatos que a gente tem com clientes, é que isso vai fazer com que a gente tenha um estresse de demanda muito grande para o segundo semestre. Historicamente, a gente já tem um estresse logístico no segundo semestre muito grande. A gente tende a ter algo de novo, talvez um pouco maior ainda do que aconteceu no ano passado. Isso é preocupante sim, porque obviamente a gente tende a ver um aumento de preços por conta disso, mas também a gente tende a ter um estresse na área logística, que é de certa forma preocupante. Como que a gente tem feito para se preparar certa forma para isso... É, todas as manutenções preventivas que a gente podia fazer nas plantas, a gente antecipou para o primeiro trimestre e quadrimestre deste ano. Por quê? Para ter a capacidade produtiva das nossas instalações ao máximo no pico. A gente está tentando ter alguns contratos de transporte que sejam mais previsíveis do ponto de vista de preços, de disponibilidade. Mas são ações mitigadoras, então acho que sim, que a gente vai ter um estresse muito grande de entregas no segundo semestre, mas é algo que o produtor rural, da mesma maneira que tem um manancial de informações muito grande para avaliar o melhor momento de compra também o tem para avaliar essa questão da logística. Então é algo que... Eu vejo, de certa forma, essas sazonalidades de compra como uma certa maturidade do próprio mercado que a gente está inserido, não vejo isso de maneira ruim. Só acho que, claro, como todo empresário, nós também, a gente tem que avaliar quais são os riscos e benefícios que isso traz. Então, acho que é um question mark que a gente vai ver na realidade a partir de junho deste ano.

GA: Bom, como você comentou, né? A gente está vendo essa mudança na maneira como os agricultores se posicionam no mercado, a tomada de decisão, e a gente também tem sentido isso, muito em questão da escolha do agricultor no fertilizante que ele vai usar. A gente tem sentido uma demanda maior por triplo, por super simples em detrimento do usual MAP 11-52. Vocês enxergam que talvez a gente tenha nesse ano uma entrega de TSP e SSP maior do que a de MAP?

GH: Isso sem dúvida está acontecendo e é uma prática e mostra bem claramente a maturidade que o nosso próprio produtor tem. Ele enxerga quais são as opções melhores, ele tem um controle muito grande da quantidade de fertilizantes que ele tem no solo hoje já aplicado, residual. Ele sabe muito bem dosar isso e está no papel correto. Tanto que quando a gente startou agora Salitre, a gente começou startando Salitre com as plantas de SSP e TSP, porque a gente sabia que o mercado foi demandante disso, né? O MAP hoje, ele está no Brasil, embora quando você compara os preços do Brasil com os preços internacionais, o preço brasileiro esteja baixo comparado com o mercado internacional, ele, na referência para o produtor local, ele ainda está alto. Então ele tem, mesmo que seja uma referência histórica ou às vezes até um pouco afetiva, vamos dizer, é, ele tem razão em fazer outras coisas. Agora, claro, isso tudo é uma dinâmica que o próprio mercado acaba trazendo. À medida que as entregas e os volumes de SSP e TSP forem subindo, o preço do MAP, provavelmente, vai cair, e o próprio TSP e SSP vai acabar caindo. Então, acho que esses movimentos eles são bons, inclusive, para gente ter uma homogeneidade no mercado de maneira mais abrangente.

GA: Maravilha, Gustavo. Agora mudando um pouquinho para o milho. O que vocês têm sentido em relação à comercialização, rodagem nos principais estados, pensando na safra 2024-25?

GH: Também a gente está vendo um certo atraso, né? Os preços do milho de uma maneira geral, eles não estão tão competitivos como era no passado, mas o que a gente tem aqui, e vocês tem esses dados também, a gente tem algumas divergências, inclusive de consultorias e posicionamentos de mercado em relação à área plantada e o quanto essa área vai diminuir ou permanecer a mesma dos anos passados. Na nossa opinião, o produtor ele tem muito claramente quais são os benefícios e malefícios de plantar mais ou menos área agora, ele está dosando isso muito bem, baseado no preço futuro que ele enxerga. Claro que olhando o contorno do negócio, com o mercado de sementes, o mercado de defensivos, esses mercados estão acontecendo. Isso nos leva a crer que o produtor ele tem, sim, a intenção de manter a área plantada, talvez com alguma pequena, alguma pequena diminuição, mas que esse mercado vai acontecer e vai acabar vindo em algum momento. Esse momento está para ser definido para acontecer nas próximas semanas, acredito.

GA: Quais são as perspectivas para o mercado brasileiro no terceiro trimestre?

GH: É, como eu falei, eu acho que no terceiro trimestre a gente vai ter uma grande pressão em termos de vendas e de entregas, a gente vai começar a ver que toda aquela demanda, de certa forma reprimida que a gente viu no início do ano, a gente teve um início de ano talvez historicamente com o menor número de entregas registradas, né, isso acredito que a Anda deva trazer em algum momento esses dados também, a gente vai ter sim. Porque embora a gente tenha algumas divergências em relação ao volume do mercado brasileiro como um todo, eu não vejo uma variação abissal em relação aos 46 milhões-46,5 milhões que a gente vem, desde o início do ano, vislumbrando como mercado potencial para 2024. Vai ser um terceiro trimestre desafiador do ponto de vista de entregas. Acredito que as nossas plantas Eurochem e mais as plantas de toda a nossa indústria nacional, elas vão estar extremamente demandadas. E acredito que, caso a gente não tenha aí soluções que permitam uma certa continuidade nessas plantas, talvez a gente venha a ter alguns gargalos de entrega, somados com alguns gargalos de recebimento de bens importados. Mas, de novo, é algo que a gente tem que estar atento e eu já coloco isso como não se acontecer, mas quando acontecer. Então a gente vai ter que estar preparado para mitigar isso de alguma maneira, de fazer com que as entregas que estão acordadas ou aquelas que a indústria espera que a gente faça que elas aconteçam. Até porque a gente está inserido numa cadeia de um processo produtivo, que ele é extremamente relevante do ponto de vista de soberania alimentar. Mas a gente sabe que a gente é apenas um elo, talvez um elo que corresponde a 40pc do custo do produtor, 50pc talvez, mas que é um elo, então essa cadeia toda ela tem que estar muito bem funcionando, e o nosso papel é fazer com que pelo menos o nosso elo, que a gente tenha e garanta a previsibilidade e a coerência daquilo que a gente se propôs a entregar. E esse é o nosso desafio para terceiro e quarto trimestre desse ano.

GA: Agora mudando um pouquinho de país, você pode comentar um pouco sobre os projetos, as visões de vocês para o mercado argentino?

GH: Argentina é um mercado muito interessante. Argentina, a gente tem uma fábrica lá, chama-se Emerger. Argentina tem um mercado em números de grandeza, talvez na ordem de grandeza, talvez ele seja 10pc do mercado brasileiro. É um mercado que, historicamente, são margens muito interessantes e a gente opera nesse país desde 2017, quando a gente fez aquisição dessa unidade. Essa unidade, ela tem capacidade de distribuição de 200.000 toneladas por ano. Ano passado, a agricultura argentina passou por um vale, por um momento de extrema depreciação, a produção caiu vertiginosamente. Mas, por outro lado, nós que estamos próximos da Argentina, já vimos a economia argentina de vários ângulos, a gente acredita que a única ou talvez uma das poucas maneiras que a Argentina tem de conseguir garantir o ingresso de dólares, que, por consequência, vai fazer com que essa economia tenha um retorno e que as taxas de juro caiam, como vem gradativamente caindo, que isso aconteça é com a venda da safra que a Argentina vai produzir. Então, não há como a gente abdicar de um mercado como Argentina, independente das turbulências que a gente veja, e a gente já viu algumas muito duras no final do governo passado, mas o nosso olhar em relação à Argentina é sempre de esperança, porque é um mercado, como eu disse, com boas margens, com estruturas de logística muito bem pensadas e muito bem implantadas, com uma capacidade de produção e de produtividade muito boa e que tem na agricultura um histórico de base inclusive econômica do próprio país. Então, a gente enxerga com bons olhos o que está acontecendo lá de recuperação econômica e o que a gente puder fazer para ajudar essa recuperação econômica, atuando nessa cadeia, que como eu disse nós somos um elo, a gente não vai deixar de fazer.

GA: Maravilha. Muito obrigada, Gustavo. Agradeço a sua participação com a gente. Esse e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com/falando-de-mercado. Visite a página para seguir acompanhando os acontecimentos que pautam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Voltaremos em breve com mais uma edição de falando de mercado. Até logo.

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