• 17 de maio de 2024
  • Market: Biofuels & Feedstocks

Falando de Mercado: Tendências da logística rodoviária de combustíveis

Um cenário complexo ampliou o desafio de programação da logística de combustíveis no primeiro trimestre, com tendências distintas de oferta e demanda do serviço de transporte, dinâmicas regionais de safras e oportunidades de otimização de fluxos.

Camila Dias, diretora da Argus no Brasil, e Amance Boutin, editor da publicação Argus Brasil Combustíveis, conversam sobre a variação de fretes de transporte de combustíveis e biocombustíveis.

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Transcript:

[Camila Dias] Olá, e bem-vindos ao Falando de Mercado, uma série de podcasts trazidos semanalmente pela Argus sobre os principais acontecimentos com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Camila Dias, eu sou Diretora da Argus no Brasil, e no episódio de hoje eu converso com Amance Boutin, editor de combustíveis para o mercado brasileiro, sobre as tendências mais recentes de logística rodoviário de combustíveis.

[Amance] Obrigado, Camila.

[Camila] Amance, como andou o preço de transporte rodoviário dos combustíveis consumidos no Brasil?

[Amance] Olha, vai depender para qual combustível você está olhando. Em 2023 a gente viu tendências bem uniformes na questão do comportamento da logística de combustíveis. Mas a nossa pesquisa mais recente de março aponta para tendências bem distintas entre os combustíveis. No caso, o preço do frete de cada produto acabou acompanhando o cenário de oferta e demanda do próprio combustível. Vou te dar um exemplo. A gente viu o custo de transporte de diesel e gasolina cair 4,9pc entre fevereiro e março de 2024, para uma média de R$129/m³ a nível nacional. Ou seja, quem transportou diesel e gasolina a partir de alguma refinaria ou porto para suas bases teve que desembolsar 13 centavos de real por litro para tal operação. Mas no caso do etanol, o mesmo custo médio nacional deu um salto de 6,8pc e fechou o mês em R$148/m³.

[Camila] Entendi. Agora pode me explicar por que é tão surpreendente o frete acompanhar estes fundamentos de oferta e demanda do produto transportado? Não me parece totalmente ilógico que fator seja mesmo determinante na fixação destes custos logísticos. Afinal o fluxo de produto depende do volume consumido no país, não?

[Amance] Tem razão, é um fator determinante mesmo. Mas o frete é influenciado também por outros fatores, que acabam tendo um peso considerável. Pensa no custo do diesel na bomba ou a capacidade das empresas em otimizar seus fluxos logísticos. O diesel é o principal custo variável do transportador. Se o preço do diesel aumenta ou se ele cai, isso vai ter algum efeito no frete rodoviários, pois os transportadores e as distribuidoras tem contratos que contemplam gatilhos no caso de mudança de preço. O que acontece foi que o preço do diesel na bomba se estabilizou e mudou pouco em todas as regiões no primeiro trimestre, pelo que a gente pude ver nos dados da agência que regula o setor de combustíveis, a ANP. A otimização de fluxos, ou seja, a capacidade do setor de logística das empresas em casar operações de frete de ida e de retorno, também influencia muito o preço final. As empresas podem também optar por encurtar as rotas de coleta para reduzir seus custos logísticos. E este último fator acabou se misturando e exacerbando este o cenário de oferta e demanda dos combustíveis no mês passado.

[Camila] Interessante. Você teria algum exemplo para ilustrar como a questão da otimização do frete rodoviário acabou alterando o quadro de oferta e demanda?

[Amance] Claro. No caso do etanol, foi a demanda forte em março por hidratado, no final da entressafra do Centro-Sul, que complicou a vida das transportadoras. Elas tiveram que buscar mais produto, isso de usinas mais longe de suas bases, principalmente na região Nordeste. As distribuidoras compraram mais etanol em particular de Minas Gerais, São Paulo e Goiás. No caso de São Paulo e Minas Gerais, o aumento do custo do frete foi significativo porque um fluxo de retorno de nafta que antes existia entre o porto de Suape, em Pernambuco, a Bahia e São Paulo, começou a arrefecer. Ou seja, a perna de frete de volta que transportava outro produto deixou de existir, então o custo do transporte aumentou muito. Houve uma baixa taxa de otimização em Goiás também, o que contribuiu para este aumento do preço médio do frete de 6,8pc na região no etanol. Já olhando para o diesel e a gasolina A, ou seja, o produto fóssil antes da mistura com biocombustíveis, a demanda veio abaixo da expectativa. Na gasolina, a queda do consumo foi o reflexo direto desta alta do consumo do etanol hidratado que a gente acabou de comentar. Já no caso do diesel, o consumo efetivo do combustível veio abaixo do esperado, e isto se somou à questão do aumento da mistura de biodiesel de B12 para B14 em março, que de fato tirou demanda por diesel fóssil do mercado. E aí, como as distribuidoras tendem a priorizar o diesel e a gasolina que vem das refinarias da Petrobras em detrimento do produto importado mais caro, esta queda da demanda teve um efeito exacerbado sobre os fluxos de diesel e gasolina de origem fóssil estocado nos portos, que dependem muito mais do modal rodoviário.

[Camila] Muito interessante, Amance. E como as distribuidoras e transportadoras reagem a este cenário tão dinâmico e complexo.

[Amance] Isto é um desafio muito grande. Os departamentos de logística das distribuidoras têm uma tarefa muito difícil porque eles tem que acompanhar o cenário de oferta e demanda de cada combustível de maneira separada, analisar esses fluxos na luz do mercado de transporte (por exemplo, como está a oferta de caminhão em relação a demanda), cruzar estas duas visões para traçar uma estratégia integrada com suas áreas de trading que fazem a compra de combustível. Ainda precisa antecipar como o mercado vai se comportar, se vai ter tendências divergentes a nível regional por alguma questão de sazonalidade (safras, paridade entre etanol e gasolina na bomba). Precisam chegar com uma solução que leva em consideração muitas variáveis temporais, mercadológicas, regionais e até meteorológicas. Não é tarefa fácil.

[Camila] Pois é. Me parece que tem bastante assunto para cobrir e análise para fazer neste segmento mesmo. Vamos fazer a nossa parte e trazer esta visão integrada da logística e da energia. Obrigada por nos trazer esses insights, Amance.

Esse e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com/falando-de-mercado. Visite a página para seguir acompanhando os acontecimentos que pautam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Voltaremos em breve com mais uma edição do “Falando de Mercado”. Até logo!

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