A produtora de etanol de milho FS está apostando na tecnologia de captura de carbono para reduzir ainda mais as suas emissões de CO2 e aumentar a competitividade do seu biocombustível no mercado internacional.
A FS está investindo cerca de R$350 milhões para conectar sua planta em Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, a um gasoduto que transportará o CO2 capturado de suas instalações para armazenamento subterrâneo na Bacia dos Parecis.
O projeto de captura e armazenamento de carbono da companhia pela rota da bioenergia (BECCS, na sigla em inglês) deve remover até 432.000 t de CO2 por ano e tem condições similares às da planta de milho da norte-americana Archer Daniels Midland's (ADM) em Decatur, Illinois.
Essa iniciativa, ainda inédita no Brasil, deve colocar a FS entre as poucas empresas globais — e a primeira no contexto do Renovabio — no caminho para se tornar carbono negativa, disse Paulo Trucco, diretor comercial da empresa, à Argus.
"Com o BECCS, nossa pontuação atual de intensidade de carbono (CI, na sigla em inglês) de 17 deverá cair 30 pontos, ou seja, teremos uma produção de etanol carbono negativo", explicou Trucco. "Com milho de segunda safra como matéria-prima, biomassa para abastecer nossas instalações e agora capturando carbono, o objetivo da FS é se tornar a primeira empresa carbono negativa do mundo."
Garantir biomassa é um desafio para a expansão da produção de etanol à base de milho no Brasil. A FS utiliza primordialmente o cavaco de eucalipto, mas também estuda o uso de biomassas alternativas, como o bambu e a casca de arroz.
A meta da empresa é emitir 32 milhões de Cbios até 2030, expandindo o projeto BECCS para suas demais unidades.
Além de Lucas do Rio Verde, a FS opera outras duas plantas no mesmo estado, em Primavera do Leste e em Sorriso. Mais três usinas devem entrar em operação até 2027, o que aumentaria a capacidade de produção anual da empresa para 5 milhões de m³.
Mercados cativos
Os planos da FS para o seu etanol com carbono negativo, no entanto, são muito mais ambiciosos do que o mercado brasileiro de créditos de carbono.
"Nosso objetivo é exportar esse biocombustível para mercados que valorizam a economia de gases de efeito estufa (GEE): a Califórnia e o programa Padrão de Combustíveis Renováveis [RFS], a agenda global de SAF [combustível de aviação sustentável] e o mercado de etanol da União Europeia", explicou Trucco.
O desafio é mostrar à indústria global que o produto brasileiro pode pavimentar o caminho mais viável para o setor de aviação cumprir sua ambiciosa meta de zerar as emissões de carbono até 2050.
A expansão da indústria de SAF pode abrir espaço para os produtores brasileiros direcionarem sua oferta excedente no caso de uma eletrificação generalizada dos veículos no país.
"Nossa tarefa é explicar os cálculos de intensidade de carbono, esclarecer o que é o milho de segunda safra e enfatizar as diferenças entre o etanol produzido a partir do milho no Brasil e o dos Estados Unidos", disse Trucco.
É provável que os produtores brasileiros de etanol de milho encarem um desafio ainda mais árduo para penetrar no mercado SAF da União Europeia que favorece os biocombustíveis waste-based e, em menor escala, sintetizados a partir de hidrogênio ou e-fuels produzidos a partir de fontes de energia renováveis.
Participantes da indústria concordam que o fornecimento de etanol celulósico não deve ser suficiente para satisfazer toda a procura europeia. Esse déficit poderia levar à criação de quotas ou mecanismos para produzir SAF ou mesmo óleo vegetal hidratado (HVO, na sigla em inglês) a partir de fontes mais facilmente disponíveis.
No mercado interno, a FS tem contado com expansão dos modais de transporte para fazer com que o seu produto seja entregue em todo o país – incluindo transporte ferroviário e bombeio por dutos.