19/10/23
Brasil defende etanol como combustível marítimo
Sao Paulo, 19 October (Argus) — A defesa do uso do etanol como combustível
marítimo ganha cada vez mais adeptos no setor energético brasileiro, em um
momento em que armadores buscam opções viáveis para descarbonizar a navegação.
Embora o uso do etanol como alternativa ao óleo combustível marítimo tenha
ocorrido apenas em fase de teste, o governo estuda, em parceria com empresas
navais e companhias sucroalcooleiras, um caminho para alavancar a adoção do
biocombustível, fontes disseram à Argus . A postura adotada pelo Brasil ocorre
depois que os membros da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em
inglês), concordaram em reduzir suas emissões em pelo menos 20pc, e de
preferência 30pc, até 2030; em pelo menos 70pc, e de preferência 80pc, até 2040;
e carbono zero até 2050. A amônia, o metanol e o hidrogênio estão entre as
opções propícias a liderar o esforço global para descarbonizar o transporte
marítimo, enquanto alguns armadores estão investindo em novas tecnologias, como
a captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês). Mas o Brasil
aposta que o etanol pode desempenhar um papel fundamental nesse futuro.
"Aproveitar nossa experiência com o uso de biocombustíveis em carros e caminhões
é um primeiro passo para estruturar soluções para outros setores, incluindo a
navegação", disse José Nilton Vieira, coordenador-geral de etanol e biometano no
Ministério de Minas e Energia, na conferência sobre navegação verde da IMO, que
ocorreu no Chile. Segundo Vieira, o ministério está estudando formas de
substituir gradualmente os combustíveis fósseis na indústria marítima, em linha
com o projeto Combustível do Futuro , que estabeleceu metas para setor de
aviação. Futuro flex-álcool Esse raciocínio está em linha com estudos feitos
pela finlandesa Wärtsilä Marine para adaptar o motor flexível do grupo, que
opera movido a óleo combustível marítimo e metanol, para também aceitar etanol.
A ideia nasceu na filial brasileira da empresa em 2015, quando o grupo Wärtsila
foi contratado pela operadora de balsas sueca Stena Line para converter a
embarcação Stena Germanica para operar com metanol. "Enxergamos que o metanol e
o etanol poderiam ser intercambiáveis porque são combustíveis bastante
similares", disse o gerente sênior de vendas da empresa na América Latina, Mario
Barbosa, à Argus . Os dois combustíveis podem compartilhar características
técnicas comuns, como sistemas de injeção e tanques de combustível. Mas fazer o
projeto andar se provou mais difícil do que o esperado, em meio ao debate "food
versus fuel" na Europa. "Os armadores brasileiros são mais receptivos ao
conceito porque conhecem bem a infraestrutura por trás da cadeia do etanol em
seu país. Para o público europeu, é importante desmistificar crenças sobre
sustentabilidade", afirmou Barbosa. No caminho, a Wärtsilä encontrou um braço
amigo na Raízen para realizar estudos de viabilidade, e agora está conduzindo
testes em escala comercial em sua sede na Finlândia. Para operar com metanol, os
motores precisam de tanques de combustível que ocupam cerca de 1,7 vezes o
tamanho do diesel. Mas, como o etanol tem poder calorífico superior ao de sua
substância irmã, menos biocombustível seria consumido para se obter a mesma
potência, segundo estudos das empresas. Próximos passos A tecnologia, no
entanto, é um obstáculo menor em comparação aos próximos desafios que surgirão.
"No fundo, estamos lidando com uma barreira maior de regulação, de visão de
mundo e geopolítica, do que de tecnologia", disse à Argus Mateus Lopes, diretor
global de transição energética e investimentos da Raízen, em um evento da
indústria de etanol. Lopes acredita que o maior desafio é convencer
participantes do setor naval de que o etanol brasileiro pode ajudar a atingir as
metas regulatórias da IMO para 2050. "A indústria marítima está olhando esse
mundo eletrificado do hidrogênio, da amônia e do metanol, mas esquecendo de um
produto que está na prateleira com 80 milhões de litros disponíveis e que pode
ser combinado com essas outras soluções para construir um roadmap ", disse. O
executivo da Raízen vê semelhanças com os desafios atuais na indústria de
combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês). "Nossa tarefa é
sentar à mesa e compartilhar informações para que o etanol seja percebido como
uma opção imediata." Por Vinicius Damazio Envie comentários e solicite mais
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