21/09/23
Uisa quer tornar seu etanol carbono negativo
Sao Paulo, 21 September (Argus) — A Uisa, empresa sucroalcooleira da região
Centro-Oeste, aposta na evolução dos mercados de carbono e na importância das
credenciais de sustentabilidade do agronegócio para expandir seus negócios. O
projeto de captura e armazenamento de carbono da companhia pela rota da
bioenergia (BECCS, na sigla em inglês) está ganhando tração: a Uisa planeja
injetar o carbono da produção de etanol em Nova Olímpia (MT), na Bacia
Sedimentar do Parecis. Com a inevitabilidade da precificação do carbono, a
produção com emissão negativa de gases de efeito estufa (GHG, na sigla em
inglês) pode tornar o biocombustível da companhia ainda mais competitivo no
mercado internacional. Em entrevista à Argus, Caetano Grossi, gerente de
sustentabilidade da empresa, fala sobre a iniciativa e os próximos passos para a
estruturação do mercado de carbono no país. A seguir, os principais trechos da
conversa. Como o carbono pode agregar valor para uma usina sucroalcooleira?
Temos uma ampla gama de projetos e iniciativas voltadas para a neutralização de
CO2, com intuito de melhorar a nossa nota de eficiência no contexto da Política
Nacional de Biocombustíveis (Renovabio) e, consequentemente, a geração de Cbios.
Hoje, essa é a terceira maior receita da companhia, atrás apenas do açúcar e do
etanol. Mas, a Uisa também trabalha em iniciativas nessa área para além do
Renovabio, como a geração de créditos de carbono vinculados a áreas de reserva
legal, por exemplo. O próximo passo é o BECCS. O que o BECCS vai proporcionar? O
processo de fermentação para a fabricação do etanol gera CO2, que é o mesmo que
a cana capturou no campo através da fotossíntese. Esse carbono é devolvido para
a atmosfera, então, ficamos empatados no zero a zero. São emissões consideradas
biogênicas, naturais da própria cultura e que não penalizam a companhia. Com o
BECCS, conseguiremos capturar esse CO2 e devolvê-lo para o solo, ou seja,
teremos emissões negativas. Ao invés de descartar, vamos capturar o carbono e
injetá-lo no solo. A tecnologia não é nova, é similar ao que é amplamente usado
na indústria de óleo e gás, inclusive pela Petrobras. Estamos fazendo um estudo
geológico e sísmico dentro de uma área de interesse próxima da nossa companhia
para identificar o local adequado de perfuração do poço, que deve ter entre
2.000-2.500m de profundidade. As condições são similares ao projeto anunciado
pela FS ? Eles são bem similares. Uma diferença é que o nosso poço ficará a
cerca de 20km de distância da planta industrial, então teremos que construir um
gasoduto para transportar o CO2 comprimido para o ponto de injeção. Já o poço da
FS ficou praticamente dentro da planta. No mês passado, fiz uma visita à planta
da ADM, em Illinois, nos Estados Unidos, que atingiu capacidade de injetar
1.000t de CO2 por dia. A nossa previsão é de injetar até 2.000t de CO2 por dia,
porque o nosso volume de produção de etanol é bastante significativo. Quais são
os mercados cativos para esse etanol com pegada negativa de CO2? A indústria do
combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês)? Sim, exatamente.
Com a expansão do etanol de milho no Brasil, particularmente aqui no Mato
Grosso, acredito que as biorrefinarias priorizarão a produção de açúcar para o
mercado interno e buscarão novas linhas de comercialização para o etanol, tanto
para a indústria do SAF quanto para o mercado europeu de combustíveis, onde o
apelo ambiental do carbono negativo é muito maior. Já somos certificados pelo
Conselho de Qualidade do Ar do Estado da Califórnia [CARB] para exportar etanol
combustível sob o Padrão de Combustível de Baixa Emissão de Carbono [LCFS] do
estado. No contexto do SAF, o etanol precisa ser certificado para ser usado como
matéria-prima, que é o que estamos buscando hoje com a Certificação
Internacional em Sustentabilidade e Carbono [ISCC Corsia Plus]. A construção de
uma planta de etanol de milho foi um dos primeiros projetos anunciados após a
reestruturação da Uisa, em 2019. Como se encontra esse projeto? Já temos as
licenças prévia e de instalação emitidas pela Secretaria de Estado Meio Ambiente
(Sema), porém, no decorrer do processo, nosso foco principal se voltou para a
questão da descarbonização. A companhia optou por priorizar outros projetos –
construiu uma unidade industrial de produção de biometano e biogás, iniciou a
operação da fábrica de leveduras, aumentou a capacidade de cogeração e
transmissão de energia, entre outros. Buscamos alternativas para agregar o
máximo de valor e produtos possíveis na cadeia de produção de cana-de-açúcar e o
milho ficou um pouco para trás. Nossa previsão é retomar a instalação dessa da
planta de milho em 2025. Ela será integrada à planta de cana-de-açúcar, contando
com a biomassa do bagaço para alimentar a operação. Quais outras tendências
estão no radar da companhia hoje? A venda da biomassa de bagaço de
cana-de-açúcar para as usinas de milho virou uma boa fonte de receita para a
Uisa. Essas plantas nos ajudaram a eliminar esse passivo ambiental, porque nossa
geração de bagaço era muito farta e, atualmente, conseguimos comercializá-lo.
Por Vinicius Damazio e Laura Guedes Envie comentários e solicite mais
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