• 22 de abril de 2024
  • Market: Fertilizers

Falando de Mercado: Demanda por fretes e adubo diante do próximo ciclo de plantio

O ano de 2024 tem tido diferentes particularidades no mercado brasileiro, tanto nos fretes rodoviários, quanto na comercialização de grãos e da compra de fertilizantes. Seja por aspectos no mercado internacional ou doméstico, as circunstâncias estão interligadas e afetam umas as outras.

A editora adjunta da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes, Renata Cardarelli, e o repórter sênior, João Petrini, conversam sobre o atual cenário dos mercados e os efeitos de fretes rodoviários abaixo da média, comercialização atrasada de soja e milho e os desafios para compra de fertilizantes para a safra de soja 2024-25.

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Transcript

RC: Olá e bem-vindos ao ‘Falando de Mercado’ – uma série de podcasts trazidos semanalmente pela Argus sobre os principais acontecimentos com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Renata Cardarelli, editora adjunta da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes, e no episódio de hoje, converso com João Petrini, repórter sênior da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes, sobre a demanda por fretes rodoviários e o cenário no mercado brasileiro diante da aproximação do plantio da safra 2024-25 de soja. Olá, João, bem-vindo.

JP: Olá, Renata. É um prazer estar aqui.

RC: Neste momento, como está a procura pelos fretes rodoviários de grãos e fertilizantes?

JP: Com a colheita de milho ainda no início, a procura pelos fretes de grãos em Mato Grosso tem oscilado. A demanda tem variado de acordo com cada corredor de exportação, justamente pelo avanço em cada região do estado, que tem direções de escoamento mais vantajosas. Entretanto, os fretes devem aumentar nesse momento com a maior demanda esperada durante a colheita de milho. Também deve entrar nessa equação o fato de que a segunda safra de milho, além de atender o mercado internacional, também atende à demanda de usinas de etanol e do setor de proteína animal, principalmente granjeiros do Sul do país. Isso eleva ainda mais a competição por caminhões para realizarem o serviço de transporte de grãos para exportação. Nos fertilizantes, de maneira geral, os valores seguem em patamares baixos. No período de entressafra e com baixa liquidez no mercado de fertilizante, o fluxo de cargas nos principais portos do país até as regiões produtoras tem sido baixo. Com a chegada do milho até os portos, as condições de frete-retorno mais favoráveis podem estimular a contratação de frete para o transporte de nutrientes. Porém, nesse momento, a demanda ainda é baixa para os fretes de fertilizantes.

RC: E fazendo uma retrospectiva de 2024 até agora, como foi o cenário nesses cinco primeiros meses do ano?

JP: De maneira geral, os fretes estão abaixo dos níveis registrados em anos anteriores, mesmo nos momentos de colheita, quando o pico da demanda pelo serviço de transporte é atingido e os fretes alcançam seus maiores níveis. Isso é reflexo da lenta comercialização neste ciclo, devido aos preços internacionais mais baixos de milho e soja – e à menor liquidez no mercado de fertilizantes. Esses fatores estão interconectados, uma vez que o atraso na comercialização das safras diminui as compras de insumos. Por sua vez, isso reduz a necessidade de serviços de transporte e contribui para fretes mais baixos em 2024. Quando falamos de preços, isso fica mais evidente. O frete de grãos da rota Sorriso-Miritituba iniciou junho com preço médio de R$253/t, comparado com R$320/t no mesmo período de 2023. No corredor Rondonópolis-Santos, o frete de grãos está em R$375/t, ante R$410/t no ano passado. Para fretes de fertilizantes, a rota Santos/Cubatão-Rondonópolis iniciou o mês de junho em R$217/t, ante R$250/t em 2023. O trecho Miritituba-Sinop ficou em R$128/t, comparado com R$135/t no mesmo período do ano passado.

RC: Qual o cenário atual das safras de soja e milho, João?

JP: A colheita da soja 2023-24 está quase finalizada, segundo levantamento semanal da Conab. Os trabalhos nos estados monitorados avançaram para 98,8pc. O ritmo está atrás do progresso de 99,5pc na safra 2022-23 um ano antes. Maranhão, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ainda não finalizaram a colheita. Já a segunda safra de milho 2023-24 tem colheita no começo. Cerca de 3,7pc da área foi colhida até 2 de junho. O ritmo está acima do progresso de 0,7pc um ano atrás no ciclo 2022-23. As atividades ainda não começaram nos estados do Piauí, Maranhão, São Paulo e Minas Gerais.

RC: João, no início do ano, as compras de fertilizantes avançaram bastante, especialmente considerando os negócios de cloreto de potássio. Mas, no geral, neste momento, as compras de fertilizantes estão em ritmo lento para o plantio de soja. Os negócios de fosfatados estão avançando, qual é o cenário atual?

JP: As compras seguem se intensificando no mercado doméstico, mas ainda estão em ritmo lento. A procura é maior por fosfatados, como você mencionou, justamente porque no início do ano agricultores aproveitaram uma relação de troca mais favorável para o cloreto de potássio. A importação de MAP, principal fertilizante usado para o cultivo de soja, caiu 36pc no ano entre janeiro e abril, para cerca de um milhão de toneladas. Agora, agricultores precisam garantir volumes de fosfatados. Com isso, no mercado doméstico os preços de fosfatados estão em tendência de alta, o que é acentuado também pela baixa disponibilidade de fertilizantes para pronta entrega. A oferta do TSP, por exemplo, é limitada no mercado doméstico e na importação, com os principais produtores indicando disponibilidade apenas para julho e agosto.

RC: Diante desse cenário, de restrição de oferta e aumento da procura por fertilizantes, qual tem sido a tendência dos preços de fosfatados?

JP: A alta demanda por fosfatados no Brasil, aliada à oferta restrita, pressiona os preços de MAP 11-52 para cima. O preço de MAP ficou em $555-575/t cfr ao longo de maio, mas subiu para $570-580/t cfr na última semana do mês, em meio a novos negócios no mercado de importação. Na segunda quinzena de maio, o setor se reuniu em uma importante conferência, o congresso anual da IFA, a International Fertilizer Industry Association. Durante o evento, participantes de mercado relataram uma maior procura por MAP-11-52, mas sem negócios. Depois da conferência, a atividade no mercado brasileiro de fosfatados se intensificou, após a demanda represada nos meses anteriores. A disponibilidade de fosfatado chinesa é restrita, assim como de produtos russos e marroquinos. O cenário global também favorece a firmeza dos preços, com o mercado asiático ativo e o Brasil competindo por volumes com os Estados Unidos, que têm oferta restrita.

RC: Você citou a disponibilidade de fosfatado chinês, João, que é restrita. Muitos importadores brasileiros estavam aguardando pela oferta asiática para garantir volumes. Qual o cenário atual com relação à oferta chinesa?

JP: As aquisições de fosfatados, especialmente de alta concentração, estão abaixo do ano anterior, considerando tanto importações quanto procura por parte de agricultores no mercado doméstico. Isso também se deve à expectativa de participantes de mercado pela retomada das exportações chinesas, o que na teoria pressionaria preços para baixo. De fato, ofertas de venda de MAP chinês reduziram ligeiramente os preços de fosfatados. Porém, a janela de embarque para a chegada do fosfatado chinês está muito restrita, considerando tempo para desembaraço aduaneiro, deslocamento da China ao Brasil, tempo de espera para descarga e escoamento das cargas para as fazendas. Agricultores esperavam pela queda da relação de troca entre a soja e os fertilizantes para intensificar as negociações. A relação de troca em Rondonópolis atingiu o pico de 19,54 sacas por tonelada em 15 de fevereiro deste ano, caindo para 16,73 sc/t em 6 de junho. Ainda assim, a relação de troca está acima de 15,19 sc/t registrada na primeira semana de junho de 2023.

RC: O ritmo lento de compras de insumos e da venda das commodities agrícolas gera preocupações com relação a um gargalo logístico para atender à safra de soja, João?

JP: Com certeza, Renata. O gargalo logístico é uma preocupação recorrente, em todos os anos. Mas neste ano é agravada pelo ritmo lento das compras de fertilizantes e da venda da produção agrícola. Além disso, a situação no Rio Grande do Sul também pode agravar o gargalo logístico, especialmente nos portos, uma vez que embarcações trazendo fertilizantes devem ser desviadas para outros portos das regiões Sul e Sudeste, aumentando as filas portuárias nesses locais. A compra de adubos para o plantio da soja está em torno de dez pontos percentuais atrasada com relação à média usual para o período, chegando a cerca de 60pc no Brasil. Claro que estados que usualmente compram mais cedo, como Mato Grosso, estão com as compras mais adiantadas. Mato Grosso garantiu perto de 85pc das necessidades, mas usualmente já estaria com cerca de 90pc das compras garantidas nesta época do ano. Da mesma forma, a safra 2023-24 de soja, por exemplo, está perto de 60pc negociada, contra em torno de 65pc um ano antes. As vendas da produção agrícola estão atrasadas, justamente por causa dos baixos preços no mercado internacional. Falando especificamente de Mato Grosso, segundo relatório do Imea de maio, as vendas da safra de soja 2023-24 de Mato Grosso, maior estado produtor, alcançaram 67,4pc. O ritmo está 1,4 ponto percentual acima da safra 2022-23 no mesmo período no ano passado, mas permanece abaixo dos 77pc de média de cinco anos para o período. Para o milho, as vendas antecipadas da safra 2023-24 de Mato Grosso totalizam 33,3pc da produção esperada. O ritmo está 5,3 pontos percentuais atrás do progresso da temporada 2022-23 e 29,6 pontos percentuais abaixo da média de cinco anos para o período.

RC: Muito obrigada, João. Esse e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com/falando-de-mercado. Visite a página para seguir acompanhando os acontecimentos que pautam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Voltaremos em breve com mais uma edição do “Falando de Mercado”. Até logo!