• 8 de abril de 2025
  • : Oil Products, Base Oils & Waxes

A demanda global por lubrificantes para veículos e maquinário está prestes a aumentar com a temporada de férias de verão no Hemisfério Norte, ao mesmo tempo em que a oferta se retraiu com a manutenção de refinarias no exterior e um incêndio no Brasil. Entenda o que move esse mercado acompanhando a conversa entre Camila Fontana, chefe adjunta de redação da Argus no Brasil, e Julio Viana, especialista em óleos básicos da Argus para a América Latina e integrante da equipe responsável pelo relatório Argus Base Oils.

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Transcript

Camila Fontana: Olá pessoal! Esta é mais uma edição do Falando de Mercado, uma série de podcast semanais da Argus Media sobre os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo.

Eu sou Camila Fontana, chefe adjunta de redação da Argus no Brasil. E hoje eu converso com o Júlio Viana, especialista em óleos básicos da Argus para a América Latina, integrante da equipe responsável pelo relatório Argus Base Oils.

O assunto de hoje é o mercado de lubrificantes para veículos e maquinário. A demanda está prestes a aumentar com a aproximação da temporada de férias de verão no Hemisfério Norte, ao mesmo tempo em que a oferta se retraiu com manutenção nas refinarias e um incêndio no Brasil.

Júlio, obrigada por estar aqui hoje. Antes de a gente entrar nas forças do mercado atualmente, a gente pode começar explicando o que são os óleos básicos.

Júlio Viana: Claro. Óleos básicos são um produto derivado do petróleo. Principal uso deles é a produção de lubrificantes, tanto para maquinário quanto para veículos. Tudo que utiliza máquinas e que tem movimentação de partes de metal e que sofre danos por fricção precisa de um lubrificante.

Então, óleos básicos entram aí para fazer essa produção e você vai ter uma diferenciação na grade deles de acordo com a viscosidade. Então, a gente fala muito que existe grades leves e grades pesadas justamente de acordo com o nível de viscosidade do produto.

A gente tem também diferentes tipos de produto, que são o grupo um, dois e três, os três principais. Existem muitas características que diferenciam entre esses três grupos, como por exemplo, a volatilidade deles de acordo com a temperatura, a cor e a forma de produção. Mas eles se dividem em três grupos principais e dentro deles a gente tem uma diferenciação de grade por viscosidade.

CF: Então, sendo um subproduto do petróleo, eles também seguem o comportamento do preço do petróleo? Como é que isso funciona?

JV: É, seguem bastante perto os preços de petróleo, porque justamente são um subproduto. Principalmente o VGO, ou Vacuum Gas Oil, que é também acompanhado dentro da Argus. Então dá para você fazer essa comparação.

Mas os óleos básicos, eles têm um dinamismo peculiar a eles, porque as refinarias precisam ter todo um maquinário específico para fazer a produção desses óleos básicos.

Atualmente, hoje, no cenário global, o que a gente tem enxergado é que os preços estavam bem baixos ali no começo do ano, muito porque o Hemisfério Norte estava no inverno. Então, eles não estavam utilizando muito os veículos deles, então os lubrificantes não eram muito consumidos.

Mas, aos poucos, à medida que a gente vai chegando nesse período de temperaturas mais altas no Hemisfério Norte, a gente tem um uso maior dos veículos. Então, a gente entra no que a gente chama de “driving season” lá nos Estados Unidos e na Europa. Quanto mais perto a gente vai chegando, mais a demanda por lubrificantes tende a aumentar. Então, a gente está nessa escalada, saindo agora do inverno para eles e entrando na primavera.

Pode parecer contraintuitivo, mas o mercado brasileiro e da América Latina, no geral, ele segue muito essa mesma curva, porque as estações não se diferenciam muito. Então, as estações e a temperatura acabam não influenciando demais os preços aqui.

O que influencia é justamente a chegada de produto ou não aqui. Então, com o preço aumentando lá, consequentemente o preço aumenta aqui aos poucos porque, também, com o mercado de lá consumindo mais produtos, se torna cada vez mais competitivo para a gente conseguir produto para cá.

Então, globalmente, a gente está vendo essa tendência de alta dos preços. Ao mesmo tempo que a gente vê o preço do petróleo estava um pouco instável. Mas agora o VGO e o próprio petróleo deram uma leve queda, o que estimula maior compra dos subprodutos, porque agora eles veem que está mais ou menos estabilizado, então a compra tende a crescer.

Mas ao mesmo tempo, a gente tem outra força no mercado global de óleos básicos, que é uma série de manutenções programadas, tanto para os Estados Unidos quanto na região asiática, que acabam limitando um pouco a quantidade de supply disponível para o mercado.

CF: Aqui no Brasil, a gente inclusive teve também um evento muito importante para a oferta, que foi um incêndio na planta de lubrificantes da Moove, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Isso aconteceu em 8 de fevereiro. Como isso tem afetado o mercado?

JV: Esse foi o principal acontecimento no mercado brasileiro. Acho que provavelmente será o maior acontecimento que vai influenciar o ano todo.

Foi um incêndio na parte de produção de blending. A Moove é um dos maiores produtores de lubrificantes acabados. A planta deles, lá na Ilha do Governador, é onde eles pegavam os óleos básicos, misturavam com aditivos e faziam a transformação para virar lubrificante acabado. Com a perda da parte de produção deles, eles estão no momento tendo que reformular todo o plano de ação deles de produção de lubrificante acabado. Eles vão ter que distribuir isso ao longo das quatro plantas que eles possuem aqui no Brasil, que são menores do que a principal deles era.

E também, entre outras duas que eles possuem fora do Brasil, uma nos Estados Unidos e a outra na Inglaterra. Mas mesmo assim, só a distribuição por esses lugares muito provavelmente não vai dar conta da demanda, porque a Moove é o revendedor da ExxonMobil. Então, tem aí uma grande gama de clientes aqui.

Para você ter uma ideia, a Moove tinha entre 15 a 20pc de market share do mercado. Então, ela está procurando outras formas de fazer essa produção de lubrificante acabado para poder suprir os clientes.

Ao mesmo tempo, a gente vê as outras produtoras de finalizados correndo para ver quem consegue abraçar essa fatia que foi deixada precisando de produto. Então isso tende a forçar o mercado a ser uma pressão positiva para os preços. Os preços tendem a crescer, já que a demanda aumentou repentinamente. Mas, ao mesmo tempo, a gente vê que a Moove, que também é uma das grandes revendedoras de óleos básicos, ela ficou com uma grande quantidade de óleo básico sem poder usar, mais para fabricação própria e tendo que liberar esse produto dentro do mercado. Então, a gente vê também essa força no mercado de muito produto, que pode pressionar os preços para baixo.

De forma imediata ao incêndio, o que a gente viu foi a continuidade da alta que já vinha ocorrendo desde o começo do ano por conta da demanda. Mas, no começo de março, a gente já começa a notar essa grande quantidade de produto, de óleo básico, entrando no mercado, forçando os preços mais para baixo.

E também tem uma questão que eu acho importante de se comentar aqui. Esse tipo de visualização do mercado brasileiro, de poder enxergar o movimento dos preços de forma tão clara, essa possibilidade não era possível há um tempo atrás.

Mas, desde que a Argus lançou os novos preços domésticos de óleos básicos grupo um e dois, que foi feito no finalzinho de janeiro e começo de fevereiro, a gente conseguiu finalmente ter uma visão mais clara do dinamismo que existe dentro desse mercado e, com isso, ter uma transparência maior de como que o mercado tem se movimentado.

Então são cinco preços: três de grades de grupo um, então é o grupo leve, pesado e bright; e duas de grupo dois, que é o leve e o médio. Com isso, quem vende óleo básico e quem compra óleo básico tem conseguido acompanhar semanalmente as pequenas movimentações que têm ocorrido no mercado.

Esse é o primeiro tipo de pesquisa no mundo que coloca uma luz sobre os preços de óleos básicos da América Latina, então é algo completamente novo. E para você ver, como um mercado que tá sofrendo uma transformação, passou aí parece que um furacão com essa questão do incêndio, a gente está conseguindo ver ao vivo como é que está sendo afetado.

CF: E, com certeza, essa visibilidade maior também facilita enxergar tendências e enxergar as perspectivas. O que você identifica olhando mais adiante?

JV: A gente então vai observar, como eu disse, os preços a nível global cada vez maiores, justamente por conta que a demanda vem crescendo. Ao mesmo tempo, a gente tem, por exemplo, manutenções que estão ocorrendo tanto na Ásia quanto nos Estados Unidos, deixando a produção um pouco mais apertada.

Mas uma tendência, jogando mais uma visão bem mais a longo prazo que a gente tem observado, é que grandes consumidores de óleos básicos estão com a própria produção prestes a crescer. Por exemplo, dois dos grandes maiores consumidores, que é China e Índia, devem inaugurar fábricas de óleos básicos, refinarias de óleos básicos, nos próximos anos.

A China deve se tornar autossuficiente, por exemplo, e com isso a gente vai ver que a grande tendência mundial é que Estados Unidos e Europa percam um pouco esses mercados asiáticos que vão se tornar cada vez mais autossustentáveis. E a gente vê um interesse crescente, principalmente do mercado norte-americano para a América Latina. Então, a América Latina tem se tornado cada vez mais um mercado importantíssimo para a conjuntura global. Muito produto chegando aqui. O Brasil é um dos maiores importadores dos Estados Unidos.

E pensando justamente nessa grande importância da América Latina, a Argus está para lançar a primeira conferência de óleos básicos da América Latina que vai ocorrer no dia 20 a 21 de maio lá em Miami. A gente vai juntar os principais players desse mercado na América Latina, que vão desde compradores, traders a produtores, para conversar e para entender para onde está caminhando esse mercado, justamente para ver as tendências que estão emergindo com ele.

Então a gente tem ai um mercado cada vez mais vibrante aqui na América Latina de óleos básicos.

CF: Com certeza a gente vai conversar após essa conferência para trazer novidades para os nossos ouvintes. Muito obrigada ao Júlio, muito obrigada à você que nos acompanhou até aqui.

Este e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus, em www.argusmedia.com/falando-de-mercado. Visite a página para saber mais sobre os acontecimentos que movem os mercados globais de commodities.

A gente volta em breve com mais uma edição do Falando de Mercado. Até a próxima!