A produtora Binatural expandirá a produção de biodiesel dos atuais 600.000m³/ano para 650.000m³/ano tendo como impulso o aumento da mistura obrigatória, que passou de 12pc para 14pc em 1 de março. A entrada do biocombustível no Projeto de Lei (PL) Combustível do Futuro também ampliou a expectativa do setor para o crescimento da mescla. Além disso, a empresa paulista está recertificando unidades para exportar aos Estados Unidos e à Europa, atenta à demanda crescente por biodiesel feito com insumos alternativos, como sebo bovino e óleo de cozinha usado, contou o presidente da Binatural, André Lavor, em entrevista exclusiva à Argus. A seguir, os principais trechos:
Como foram os resultados operacional e financeiro da Binatural em 2023 e o cenário para 2024?
Nos últimos seis anos, crescemos mais de 170pc com a nova unidade em Simões Filho [BA].
Temos uma capacidade instalada de 600.000m³/ano de biodiesel. Em 2023, a receita foi de R$2,2 bilhões. Para 2024, projetamos crescer 30pc, acompanhando o aumento da mistura. Até 2026, nossa capacidade de produção atingirá 650.000m³/ano.
Qual é sua opinião sobre a importação de biodiesel?
A importação de biodiesel é um contrassenso. Liberar é o mesmo que desincentivar a industrialização do país.
A importação também seria um desincentivo à agricultura familiar. Aumentar o volume de biodiesel na mistura significa elevar a competitividade, pois mesmo com o incremento da mescla, a capacidade ociosa chega a 40pc.
Como avalia o 1º ano do governo Lula?
O Brasil se comprometeu a reduzir suas emissões de carbono de 1,7 bilhão para 1,3 bilhão de t.
Temos uma matriz energética muito renovável, uma das maiores do mundo. Temos tudo para estar na vanguarda da energia renovável com a retomada da alta da mistura no Brasil e o Projeto de Lei Combustível do Futuro, que acreditamos que será aprovado, com a possibilidade de [a mescla] chegar a 20pc.
Quais as expectativas com o Projeto de Lei?
A expectativa é o PL que seja votado no primeiro semestre. O importante é a previsibilidade e a segurança jurídica para o setor.
Hoje, temos uma capacidade instalada que atenderia em torno de 20pc de mistura. Ter previsibilidade com a mistura chegando a 25pc atrairá muitos investimentos. Acredito também em programas que podem ter um aumento de mistura em cidades metropolitanas, onde a poluição é mais densa.
A proposta de ter um mandato diferente para as regiões metropolitanas teria obstáculos?
É desafiador, mas possível de ser implantado.
Podemos ter uma mistura maior nos centros metropolitanos através dos transportes públicos, que são concessões feitas por algumas empresas nas cidades que obrigariam a ter misturas maiores em função dos teores de CO2. Não é simplesmente ir abastecer no posto de combustível, pois os ônibus têm pontos de abastecimento específicos, o que torna viável delimitar uma região.
Como vê a coexistência do biodiesel com outros combustíveis avançados?
Toda energia renovável, todo biocombustível é superpositivo.
Tem espaço para todo mundo: HVO [óleo vegetal hidratratado, na sigla em inglês], SAF [combustível de aviação sustentável], R5 [da Petrobras] e eletrificação. As diferentes formas de energia renovável têm que caminhar juntas. Temos que ter misturas grandes: biodiesel a 20pc ou 25pc e HVO com 5pc ou 10pc.
O diesel R não é biodiesel, mas um percentual da parcela renovável. O Brasil não tem a capacidade de refino para atender toda a demanda de diesel, precisamos importar uma parte do fóssil. Por que não substituir grande parte disso por biodiesel já existente?
Como tem sido o uso de insumos alternativos na produção?
Não temos dependência de uma matéria-prima. Ano passado, cerca de 60pc dos insumos foram gordura [animal], óleo de algodão, óleo de palma e óleo de cozinha usado [UCO, na sigla em inglês].
Arbitramos entre os diferentes insumos. Temos visto a demanda crescente por sebo. Apesar da quebra na safra de soja, a colheita ainda será grande. Também haverá crescimento no algodão. Existe oportunidade para expandir o abate de bovinos e elevar o consumo per capita de carne no país, o que significará uma oferta maior de gordura. Outro mercado com potencial é o UCO, já bastante utilizado na Europa e nos Estados Unidos. Recuperamos menos de 5pc desse produto e a sua participação [na matriz de produção do biodiesel] é de apenas 2pc.
Existe plano para exportar biodiesel à Europa ou aos EUA?
Sim. Esse mercado cresceu bastante e, agora, estamos recertificando para estar apto para exportar.
O uso de insumos alternativos traz um prêmio para o produto que será exportado. Estamos abertos às oportunidades para exportar e este mercado que tende a crescer.
Tem planos para expandir as operações?
Teremos uma expansão em Goiás que nos possibilitará atingir 650.000 m³/ano nas duas plantas em até três anos, [ante os atuais 600.000m³/ano].
O investimento será de R$100 milhões. A capacidade da usina é de 234.000 m³/ano e chegaremos a 330.000 ou 340.000m³/ano. Os recursos serão da geração de caixa e, eventualmente, de bancos de fomento.
Pretendem entrar no mercado de combustível marítimo?
Fomos procurados para fazer alguns projetos. É uma grande oportunidade e estou otimista com os resultados.
Estamos monitorando essas iniciativas de mistura voluntária. Existem esmagadoras de soja utilizando 100pc de biodiesel na própria frota e outras corporações que têm grande consumo de diesel olhando para iniciativas semelhantes.
Por Laura Guedes e Alexandre Melo