RC: Olá e bem-vindos ao "Falando de mercado", uma série de podcasts apresentados pela Argus sobre os acontecimentos que impactam as commodities e o setor de energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Renata Cardarelli, editora da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes. No episódio de hoje, converso com a repórter sênior da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes Gisele Augusto sobre o cenário de fertilizantes no Brasil e as expectativas do mercado. Olá, Gisele, seja bem-vinda.
GA: Oi, Renata. É um prazer estar aqui.
RC: Gisele, as compras de fertilizantes nitrogenados no mercado doméstico foram deixadas para janeiro para atender à segunda safra de milho 2024-25. Esse movimento não é usual para o período, verdade?
GA: Esse movimento não era comum para o período até cerca de dois anos atrás, quando o padrão de compra dos agricultores brasileiros mudou. Até então, agricultores antecipavam as compras de fertilizantes para as principais safras do país, no caso soja e milho, garantindo que o insumo chegaria a tempo nas lavouras e sem riscos de problemas logísticos. No entanto, as oscilações constantes nos preços, principalmente de nitrogenados, e os preços de grãos e fertilizantes abaixo do esperado por agricultores fizeram com que as compras de insumos fossem postergadas o máximo possível, na expectativa de preços mais atrativos ao agricultor. E foi exatamente o que aconteceu na safra 2024-25. As compras de nitrogenados que usualmente aconteceriam com mais intensidade no quarto trimestre de 2024 foram postergadas até janeiro de 2025, com compradores esperando por preços mais baixos de ureia no início do ano, como registrado no início de 2024.
RC: Como ficou, então, o mercado de ureia em janeiro e o que é esperado nas próximas semanas?
GA: A importação de ureia subiu 14pc em 2024 para 8,3 milhões de t, comparado com dezembro de 2023. Dados de lineup apontam para 571.000t em janeiro também. No entanto, os preços do nitrogenado no início de 2025 tiveram uma tendência de alta no mercado de importação, tendência oposta ao esperado por compradores e atingiram até $410/t cfr em indicações de mercado. Muito dessa tendência reflete o estreitamento da janela de compras para a segunda safra de milho 2024-25 e restrições no fornecimento global de ureia, com o Irã reduzindo a produção devido ao redirecionamento do gás natural e após a Índia não atingir a meta de compras no leilão encerrado em 2 de janeiro. A Índia acabou garantindo menos de 20pc do que buscava inicialmente. Parte dos volumes importados no quarto trimestre de 2024 foram nacionalizados e ofertados ao mercado na base dpu. Essa disponibilidade de produto já no país também ajudou a reduzir o ritmo das negociações na base cfr. Agora, com o plantio de milho segunda safra 2024-25 nos estágios iniciais em algumas regiões e com a janela de compra de insumos para o milho encerrada os preços de ureia no mercado de importação podem registrar uma pressão de queda.
RC: Qual deve ser o posicionamento de agricultores agora que a janela de compras de nitrogenados está fechada?
GA: Agricultores começam a olhar para fosfatados, com compras de SSP reportadas no mercado doméstico, tanto de produção local quanto na importação. O preço de SSP na importação está firmando, especialmente após o leilão de venda da produtora egípcia NCIC, que teve os preços estimados em $195/t fob. Compradores da região de Mato Grosso adquirem fosfatados de produção nacional para começar a atender suas necessidades para a safra de soja 2025-26, que deve ser plantada a partir de setembro no estado. Também há demanda por pela NPS 08-40+5S, uma alternativa ao uso de NPs chinesas como o 11-44. A disponibilidade de MAP 11-52 para importação é restrita, com apenas volumes da Rússia e, em menor quantidade, do Marrocos referenciados.
RC: Além de SSP, quais outros fertilizantes têm sido foco de importadores brasileiros?
GA: Desde o fim do terceiro trimestre de 2024 o Brasil vem importando quantidades significativas de cloreto de potássio. O volume caiu 24pc em dezembro na comparação com 2023. Ainda assim, o Brasil importou o volume recorde de mais de 14 milhões de toneladas em 2024. Produtores têm apenas volumes pontuais para fevereiro, enquanto ofertas de venda para março são indicadas a $320/t cfr. A expectativa de fornecedores é de que os níveis subam até $350/t cfr em junho, considerando a demanda contínua pelo fertilizante. Participantes de mercado estimam que mais de 60pc das necessidades de cloreto de potássio para a safra de soja 2025-26 em Mato Grosso já foram adquiridas. Além do cloreto de potássio, no fim de 2024 vimos uma movimentação para aquisição de sulfato de amônio compactado com entrega entre maio e agosto, pensando nas safras 2025-26. Naquele momento, as ofertas de venda para embarque futuro foram indicadas no mesmo nível dos preços no mercado spot, o que atraiu compradores. Agora estamos em um momento de menor demanda, considerando que ainda há uma ampla janela para adquirir insumos para a próxima safra, mas o preço do ponto de nitrogenado abaixo da ureia atrai compradores, ainda mais considerando que o sulfato contém enxofre. Os últimos anos têm sido de um aumento no consumo de sulfato em detrimento da ureia e o mesmo é esperado para 2025. Em 2024, a importação de sulfato subiu 19pc no ano para 6,1 milhões de t em comparação com 5,1 milhões de t em 2023.
RC: Mais um ano de novos desafios e expectativas à nossa frente. Obrigada, Gisele.
Este e outros episódios do nosso podcast estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com. Acesse a página para acompanhar os acontecimentos que afetam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Em breve voltaremos com mais uma edição do "Falando de Mercado". Até lá!