Falando de Mercado: Perspectivas para fertilizantes em 2024
Falando de mercado: Perspectivas para fertilizantes em 2024
Com vendas em ritmo lento e mudanças no suporte de preços, participantes de mercado se reuniram na conferência da indústria de fertilizantes Fertilizer Latino Americano, em busca de clareza, sobretudo a respeito da retomada das exportações de nitrogenados e fosfatados pela China.
Conrado Mazzoni, chefe adjunto de redação da Argus Brasil, e Gisele Augusto, repórter da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes, conversam sobre os principais pontos debatidos durante a FLA, incluindo a visão atual sobre as safras brasileiras.
CM: Olá e bem-vindos ao "Falando de mercado" - uma série de podcasts apresentados pela Argus sobre os acontecimentos que impactam as commodities e o setor de energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Conrado Mazzoni, chefe adjunto de redação da Argus Brasil. No episódio de hoje, a repórter da publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes Gisele Augusto traz um balanço sobre a conferência Fertilizer Latino Americano (FLA), que aconteceu em fevereiro. Olá Gisele, seja bem-vinda.
GA: Oi, Conrado. É um prazer estar aqui.
CM: Gisele, em termos de assuntos discutidos e principais preocupações do setor, houve muitas diferenças entre esta edição e edições anteriores da FLA?
GA: Conrado, participantes concordaram que esta foi uma conferência de confirmação ou validação. Ao contrário do que pensavam antes do evento, foram mais discussões sobre perspectivas e tendências de preços do que negócios acontecendo. Isso é diferente do que aconteceu nos últimos dois anos, quando participantes em 2022 estavam desesperados para comprar, após o início do conflito na Ucrânia. Em 2022, muitos participantes estavam preocupados sobre a disponibilidade de volumes de cloreto de potássio, em meio ao conflito. Aquela também foi a primeira conferência pós-pandemia. Já em 2023, questões relacionadas ao cenário externo foram mais debatidas, em meio ao sentimento de alta de preços em 2023, com preocupações sobre preços de matérias-primas. Com o mercado brasileiro avançando em ritmo lento, após um ano de padrões de compra incomuns, e com diferentes tendências de preços para cada fertilizante, a maioria dos participantes estava mais preocupada em entender o mercado do que em adquirir novos volumes. Questões geopolíticas ainda fazem parte do cotidiano do mercado global de fertilizantes, mas estão majoritariamente precificadas e neste momento não há nada que aponte para um cenário de restrição de oferta de adubos – pelo contrário, a grande questão foi justamente sobre a retomada das exportações de nitrogenados e fosfatados pela China.
CM: Desde o início do ano, o mercado brasileiro acompanha com mais atenção os preços e as compras de ureia para atender a segunda safra de milho 2023-24. Para os nitrogenados, qual foi o principal destaque da conferência?
GA: Os aumentos contínuos nos preços da ureia mantiveram as compras desde janeiro abaixo do esperado. Participantes questionaram por quanto tempo essa tendência de alta será sustentada no Brasil, considerando que o plantio do milho já começou nos principais estados produtores e outras culturas que utilizam o fertilizante nitrogenado têm uma janela de compra diferente. Nas últimas semanas, os preços de ureia no Brasil têm encontrado suporte nos fundamentos internacionais, como o retorno das compras por importadores dos Estados Unidos. Mas os níveis por aqui e em alguns dos principais mercados do nitrogenado, como Egito, Irã e Nigéria, começaram a recuar e o Brasil deve manter esta tendência. O que sustenta este ponto de vista é que os preços do gás natural e das commodities agrícolas estão mais baixos e o Brasil entra na entressafra de compras para nitrogenados, o que deve contribuir para pressionar os preços para baixo. Outro ponto levantado foi sobre a retomada das exportações de nitrogenados pela China. Não há informações oficiais, mas a expectativa é que as exportações da China sejam liberadas a partir de meados do segundo trimestre. Com isso, considerando o tempo de deslocamento até o Brasil, o adubo estaria disponível no fim do trimestre para participantes do mercado brasileiro.
CM: Você mencionou a oferta chinesa. Isso também é uma preocupação para os fosfatados, certo? Como o mercado avalia essa questão?
GA: Sim, a China é também um ponto importante para os fosfatados. As exportações, até então, seguiam restritas, retirando um grande volume de MAP e NPs do mercado. O retorno foi um ponto importante durante a conferência. Os preços do MAP ficaram estáveis por cerca de seis meses no Brasil, com compradores concentrados na aquisição de nitrogenados e no desenvolvimento da safra de soja, enquanto produtores de fosfatados preferem enviar o fertilizante para países com melhores netbacks. Além disso, a China deve voltar a exportar aos poucos, para não inundar o mercado de uma só vez - o que pressionaria os preços para baixo. Em resumo, o retorno da China foi um dos principais pontos discutidos durante a conferência para dois dos três principais macronutrientes, N e P. No fim de fevereiro, a China anunciou que deve retomar as exportações de fosfatados a partir de meados de março. As cotas para MAP e DAP devem permanecer nos níveis do ano passado, porém não haverá limite de volume para TSP, SSP, NPS e NP. A única exigência é que as exportações passem pelo processo de inspeção e quarentena. As cotas de MAP e DAP valerão de janeiro deste ano até 31 de março de 2025, divididas em três períodos, de janeiro a abril, de maio a setembro e de outubro a março de 2025. A manutenção no volume das cotas somado à extensão do período de vigência de 12 meses para 15 meses tem pressionado os preços de fosfatados para cima nas últimas semanas. Os preços de SSP também foram questionados, uma vez que atualmente existe uma ampla diferença entre as ofertas de venda de diferentes fornecedores para o fosfatado com 19pc de P2O5. A diferença entre fertilizantes de boa e má qualidade, revestidos e não revestidos, aumenta a diferença dos preços e dificulta a fixação de um nível pelos compradores. Durante a conferência, essa diferença chegou a variar de 20 a 25 dólares por tonelada entre fornecedores. Desde o início do ano, muitos participantes da região Centro-Oeste se concentram na compra de produtos nacionais - que estão esgotados até março. Já para a região Norte, foram registados negócios pontuais no mercado de importação.
CM: Então a China foi o tema principal da conferência latina! E quanto ao potássio, Gisele? Sabemos, e você mencionou, que o fornecimento chinês é importante para N e P, mas esse não é o caso para MOP. Sendo assim, quais foram as preocupações e o sentimento do mercado em relação a esse nutriente?
GA: Tem razão, a China não é um fornecedor de MOP para o Brasil. O que mais se questionou sobre o MOP foi "será que atingimos o piso para os preços de MOP, ou podemos esperar por mais quedas nas próximas semanas?". Fornecedores consideravam os níveis naquele momento, de cerca de $270-280/t cfr, os mais baixos e que uma alta deveria acontecer. Por outro lado, compradores ainda viam espaço para quedas, especialmente considerando o mercado interno. Fornecedores firmaram suas ofertas a níveis mais altos nas semanas seguintes ao evento e compradores acabaram por aceitar os aumentos. Os preços estão em torno de $290-310/t cfr, considerando negociações de diferentes origens. A maioria dos produtores já indica níveis até $320/t cfr para abril e maio. O aumento vem junto com o início do aumento da demanda para a safra de soja 2024-25, especialmente com as relações de troca de oleaginosas mais atrativas para o MOP do que para outros fertilizantes.
CM: Você mencionou as relações de troca da soja, então vamos aproveitar para falar um pouco sobre as safras brasileiras, qual a visão para a produção e os preços da safra atual?
GA: Até o momento, os preços da soja e do milho estão em níveis abaixo do esperado. Com isso, a comercialização avança em ritmo lento nos principais estados produtores, já que agricultores esperam por um aumento nos preços. No entanto, parece ser consenso que as vendas precisarão ser retomadas em breve para liberar espaço nos armazéns para a chegada de mais volumes de soja e, em alguns meses, da segunda safra de milho. Os armazéns ainda estão cheios de grãos da última temporada. Além disso, por volta de abril, as compras de insumos devem começar a aumentar para a safra de soja 2024-25, o que também significa mais vendas de grãos, já que agricultores brasileiros financiam a maior parte de suas safras por meio da relação de troca. A maioria dos participantes não espera aumentos nos preços dos grãos para os próximos meses, considerando o bom desenvolvimento da safra argentina e norte-americana e a baixa demanda da China até agora. Participantes estimam uma safra brasileira de grãos entre 143-145 milhões de toneladas. Alguns agricultores não adquiriram sementes de milho para plantar em toda a área disponível, pois os preços do grão estavam mais baixos do que o usual no ano passado, mas acabaram enfrentando uma redução na soja após o clima prejudicar algumas áreas. Por isso, estão buscando outras culturas, como o algodão, o trigo, a cevada e o gergelim, para manter a área produtiva.
CM: Parece que temos pela frente mais um ano cheio de desafios e muita informação valiosa em nossa publicação Argus Brasil Grãos e Fertilizantes. Obrigado, Gisele. Este e outros episódios do nosso podcast estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com. Acesse a página para acompanhar os acontecimentos que afetam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Em breve voltaremos com mais uma edição do "Falando de Mercado". Até breve!