13/03/25
Açúcar: Mudança tributária abre espaço diplomático
Açúcar: Mudança tributária abre espaço diplomático
Sao Paulo, 13 March (Argus) — A isenção das importações de açúcar no Brasil é
avaliada como uma tentativa de demonstrar aos Estados Unidos disposição em
realizar acordos comerciais com o país, após o governo norte-americano sinalizar
a possibilidade de aumentar as tarifas sobre alguns produtos brasileiros . Ao
retirar as tarifas sobre o açúcar, o Brasil abre espaço para negociar a
possibilidade de manutenção das tarifas de etanol, de acordo com Renato Cunha,
presidente da Associação dos Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia das
regiões Norte e Nordeste (NovaBio). Etanol e açúcar são mercados correlatos no
Brasil e as negociações dos dois costumam estar interligadas. Ambos são
derivados da cana-de-açúcar e a produção de um produto ocorre em detrimento do
outro. O governo brasileiro anunciou em 6 de março a eliminação dos impostos
para importações de itens considerados essenciais, como o açúcar, milho, azeite,
café e óleo de soja, com o intuito de reduzir os preços dos alimentos, em meio à
aceleração da inflação. No caso do açúcar, o efeito sobre a inflação tende a ser
limitado. O Brasil – maior produtor e exportador mundial de açúcar – é
autossuficiente na produção do adoçante e as importações representam volumes
mínimos no mercado. O Brasil exportou cerca de 33,5 milhões de t em 2024, alta
de 23,8pc em comparação com 2023, a partir de uma produção de 42,4 milhões de t
na safra 2023-24, de acordo com a Unica. Vantagens competitivas do açúcar
brasileiro Mesmo que a isenção de tarifas para importar açúcar – que antes eram
de até 14pc – facilite a abertura de novos mercados e crie eventuais
oportunidades para os consumidores brasileiros, o produto nacional ainda é mais
barato, pelos custos de produção mais baixos em relação a outros países. Os
custos para produzir açúcar no Brasil são de aproximadamente 15¢/lb (equivalente
a R$1,92/kg), enquanto na Tailândia – segundo maior exportador de açúcar – eles
estão próximos de 21,5¢/lb, segundo participantes de mercado. Na Índia e
Austrália, terceiro e quarto maiores exportadores, os custos são de
aproximadamente 22,4¢/lb e 18,3¢/lb, respectivamente. Para que haja uma redução
efetiva dos preços do açúcar, é necessária uma revisão nos custos de toda a
cadeia produtiva até as gôndolas do mercado, disse José Guilherme Nogueira,
presidente da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil
(Orplana). Para Nogueira, é importante se atentar a fatores além da produção,
como custos de frete e seguro, áreas passíveis de atuação do governo. Como a
produção é suficiente para o consumo nacional e há um grande volume excedente, o
açúcar brasileiro acaba sendo majoritariamente exportado, sem o mercado externo
representar efetivamente uma concorrência para o consumidor brasileiro. O preço
do açúcar cristal branco registrou uma média de R$155,3/ saca de 50kg em janeiro
- ou $24,9/sc na paridade de exportação, com a cotação média do dólar
norte-americano a R$6,02 – segundo o indicador do Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada (CEPEA/Esalq). Em janeiro de 2024, os preços no mercado
nacional estavam R$145,04/sc, em média, e $29,5/sc, considerando uma taxa
cambial média de R$4,91. Isso mostra que mesmo com o dólar mais alto neste ano,
o mercado doméstico de açúcar segue remunerando mais que o mercado externo, em
comparação com o mesmo período no ano passado. Por Maria Albuquerque Envie
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