25/04/04
Indústria de SAF no Brasil deve decolar em 2027
Sao Paulo, 4 April (Argus) — A indústria de aviação brasileira está atenta às
regulações para o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês),
enquanto o mercado doméstico aguarda o início da produção local para cumprir com
o plano de mandato de mescla e com o potencial de exportação. A Lei do
Combustível do Futuro visa aumentar as mesclas obrigatórias de biocombustíveis
para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) em voos domésticos no
período de dez anos, a começar por 2027. O Brasil se comprometeu a aplicar um
mandato de 10pc de SAF até 2037. Os esforços do país para implementar o mandato
de SAF estão alinhados às diretrizes do Esquema para Compensação e Redução de
Carbono para a Aviação Internacional (Corsia, na sigla em inglês), da
Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO, na sigla em inglês), que prevê
a redução de emissões de GEEs em voos internacionais. O programa determina duas
fases até a implementação integral das metas de redução, pensando em uma
adaptação mais eficiente das companhias aéreas e dos produtores. As companhias
aéreas podem aderir voluntariamente ao programa entre 2024-26. As metas
compulsórias globais são implementadas entre 2027-2035, o que incentiva o uso de
SAF e a compensação de créditos de carbono. A fase obrigatória abrange todos os
voos internacionais, incluindo aqueles com embarque e desembarque em países
não-voluntários, exceto os considerados menos desenvolvidos e os de baixa
participação no tráfego aéreo global. O SAF brasileiro é uma indústria
recém-nascida com potencial para oferta de insumos , principalmente as rotas de
produção envolvendo óleo de soja, etanol de milho e de cana-de-açúcar, bem como
largas terras agrícolas destinadas à produção de biomassa sem a prática de
mudança do uso da terra (MUT). Essa variabilidade também abre espaço para novos
projetos que reutilizam terras degradadas e áreas agrícolas existentes em
conformidade com os critérios de sustentabilidade da ICAO relacionados ao uso de
terra e ao aprimoramento do solo. A inserção do SAF no Brasil enfrenta
obstáculos econômicos à medida que a alta volatilidade do mercado pesa sobre os
investimentos de longo prazo, disse o consultor da A&M Infra, Filipe Bonaldo.
Segundo o consultor, a agenda política não afetará a transição energética no
país como aconteceu nos Estados Unidos sob o governo do presidente Donald Trump,
uma vez que a economia do Brasil depende fortemente da agricultura e as
regulações do mercado são otimistas. Como uma potência agrícola, o Brasil
oferece produção de baixo custo e múltiplas fontes para suprir as demandas
internas e externas. O Brasil é o terceiro maior exportador global nos mercados
agrícola e pecuário, liderando os segmentos da soja, suco de laranja e de carne,
de acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CAN). Estreia
no Rio A Vibra foi a primeira distribuidora a oferecer SAF no Brasil, antes da
mescla obrigatória entrar em vigor. A empresa importou 550m³ de SAF produzido a
partir de óleo de cozinha usado (UCO, na sigla em inglês), a partir da Bélgica,
em janeiro. O biocombustível está disponível para venda nas instalações da Vibra
no aeroporto internacional do Rio de Janeiro após dez meses de operações
logísticas. A Certificação Internacional de Sustentabilidade e Carbono (ISCC, na
sigla em inglês) assegurou a validade de todas as etapas, desde a cadeia de
suprimento do produto até a distribuição. A Vibra opera em mais de 90 aeroportos
no território brasileiro e representa 60pc da participação de mercado da aviação
nacional através da subsidiária BR Aviation, disse o vice-presidente executivo
de operações, Marcelo Bragança. Por que tanta demora? Por muito tempo, o setor
teve dúvidas quanto à viabilidade técnica do uso de biocombustíveis na aviação,
especialmente quanto à segurança, disse a gerente de meio-ambiente e transição
energética da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Marcela Anselmi. A Anac
e a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) seguem as
regulações internacionais para o SAF ao exigirem que o biocombustível apresente
semelhanças físico-químicas com o combustível fóssil de aviação para garantir a
segurança das operações aéreas. Ainda não é possível usar 100pc de SAF nos
motores de aeronaves, disse Anselmi. Há um limite de 50pc de mescla que inibe a
adesão ao redor do mundo, considerando as restrições técnicas que ainda precisam
ser superadas. O compromisso recente com as pautas de transição energética está
incentivando a oferta de biomassa para a aviação, bem como aos modais rodoviário
e marítimo, o que exige novas rotas de produção. Por exemplo, a rota
alcohol-to-jet (ATJ) converte etanol em SAF, o que pode ser caro para instalar e
implica alto investimento em bens de capitais. No contexto global, o Brasil está
na vanguarda da pauta SAF, considerando que a Europa e os EUA publicaram
legislações relacionadas à produção e ao consumo somente nos últimos dois anos,
apontou Anselmi. Enquanto isso, a capacidade projetada de produção de SAF na
América do Sul pode chegar a 1.100 m³/ano em 2030, de acordo com a Empresa de
Pesquisa Energética (EPE). Por João Curi Envie comentários e solicite mais
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