Falando de Mercado: O preço do biometano no Brasil 2024

Author Argus

O mercado brasileiro de biometano passa por um momento crucial de desenvolvimento, com 10 usinas previstas para entrarem em operação apenas neste ano.

Junte-se a Camila Dias, diretora da Argus no Brasil, e Rebecca Gompertz, repórter da publicação Argus Brazil Gas Markets. Elas conversam sobre a importância da criação de um preço para a transparência deste mercado florescente no Brasil.

Transcript:

[Camila Dias] Olá, e bem-vindos ao Falando de Mercado, uma série de podcasts trazidos semanalmente pela Argus sobre os principais acontecimentos com impacto para os setores de commodities e energia no Brasil e no mundo. Meu nome é Camila Dias, eu sou Diretora da Argus no Brasil, e no episódio de hoje eu converso com Rebecca Gompertz, repórter de mercados de Gás, sobre o recente lançamento de um preço de paridade de biometano pela Argus. Bem-vinda, Rebecca.

[Rebecca Gompertz] Obrigada, Camila.

[Camila] Rebecca, o que é o preço de paridade de biometano lançado pela Argus?

[Rebecca] Camila, nós lançamos três preços diários. Um para o Rio de Janeiro, outro para o norte de São Paulo e outro para o sul de São Paulo. Eles representam o preço de entrega do biometano na malha de distribuição, sem o preço do frete. É um preço composto por uma parcela que representa o custo médio das distribuidoras para adquirir gás fóssil naquela região, somado ao prêmio relacionado ao atributo verde. Esse atributo verde corresponde ao valor adicional que o produtor conseguiria monetizar vendendo Cbios, considerando a eficiência energético-ambiental média das usinas de biometano. Nós optamos por fazer o cálculo do atributo verde a partir do Cbio porque esse é o certificado de carbono regulado com mais liquidez e transparência de mercado que o biometano consegue acessar hoje. Mas acompanhamos também outros créditos voluntários que existem no Brasil, como o GAS-Rec. Caso algum deles ganhe relevância e haja transparência entre os participantes para reportar, acreditamos que conseguiríamos incorporar isso ao preço facilmente.

[Camila] E qual a importância de existirem indicadores de preços nesse mercado?

[Rebecca] O lançamento traz maior transparência para esse mercado, que ainda não tinha um norte para sua precificação. Geralmente, os produtores de biometano determinam seus preços caso a caso, dependendo de uma série de fatores, como a necessidade do consumidor pelo atributo verde, a rota de substituição energética – porque o biometano pode substituir o diesel, por exemplo – e os custos de logística. Inicialmente, o setor de biometano olhou para os preços de GLP como referência, porque as indústrias só precisam de pequenas alterações para trocar um combustível pelo outro. Mas o mercado de GLP é muito mais consolidado e estável em fornecimento do que o de biometano. A indústria internacional de petróleo e o câmbio também influenciam o GLP, o que leva a distorções que não refletem, necessariamente, as condições reais do mercado de gás natural renovável. Hoje, os participantes de mercado ainda estão aprendendo a monitorar o setor de biometano, já que suas estruturas de produção e fornecimento são novas no Brasil. Ter um preço específico para a molécula e local ajuda as empresas a se posicionarem e planejarem suas estratégias de acordo com as condições reais do mercado. Mesmo sendo um preço de paridade, que leva em consideração o preço do gás fóssil, ele consegue se aproximar mais das condições reais de mercado do que as alternativas disponíveis.

[Camila] Quais são os principais fatores que influenciam esse preço?

[Rebecca] Por conta do papel do gás fóssil na precificação, o petróleo e o câmbio desempenham um papel importante no preço do biometano. A grande maioria dos contratos de fornecimento das distribuidoras de gás no Brasil está indexada ao Brent e, por isso, ligada ao câmbio. Dessa forma, quando o Brent varia, o nosso preço de paridade tende a variar também. O outro fator que influencia esses preços é o Cbio, que na verdade é um preço diário separado, apenas convertido para entrar no cálculo do preço do biometano. O Cbio é influenciado por uma série de fatores, como a demanda das distribuidoras de combustíveis, o prazo da meta compulsória do Programa Nacional de Biocombustíveis (Renovabio) em que cada distribuidora precisa aposentar uma determinada quantidade de créditos e as vendas de etanol, que impulsionam a geração de Cbios. Em 18 de março, por exemplo, o preço do biometano nas três regiões atingiu uma média de R$2,70, com uma leve tendência de alta em relação à semana anterior impulsionada pelo aumento do preço do petróleo, mas contrabalanceada por uma queda no preço dos Cbios.

[Camila] Muito interessante, Rebecca. E para além disso, o que está acontecendo no mercado que pode influenciar o preço do biometano?

[Rebecca] No pano de fundo, temos a discussão do projeto de lei “Combustíveis do Futuro” aprovado pela Câmara dos Deputados, em 13 de março. O texto prevê a criação de um programa de descarbonização do produtor e importador de gás natural por meio do biometano, com metas anuais de redução de emissões a serem definidas pelo Conselho Nacional de Política Energética. A pauta segue para análise do Senado Federal. Foi uma iniciativa muito bem recebida pelos produtores de biometano, já que impulsionaria sua demanda, mas muito questionada pelos consumidores, que não querem a obrigação de pagar por este produto mais caro do que o gás fóssil. Há também pelo menos 10 novas plantas de biometano previstas para concluírem suas obras em 2024, elevando a oferta disponível no mercado. A Zeg Biogás, por exemplo, prevê iniciar uma usina de biometano de 30.000 m³/d, no estado de Minas Gerais, no segundo semestre do ano. A empresa pretende explorar o mercado fora da rede na região e espera assinar quatro contratos adicionais neste ano, além de elevar a capacidade de produção.

[Camila] O mercado parece estar em um momento crucial de desenvolvimento, e o lançamento de preços de paridade pela Argus com certeza vai ajudar a orientar a tomada de decisões. Obrigada por nos trazer esses insights, Rebecca. Esse e os demais episódios do nosso podcast em português estão disponíveis no site da Argus em www.argusmedia.com/falando-de-mercado. Visite a página para seguir acompanhando os acontecimentos que pautam os mercados globais de commodities e entender seus desdobramentos no Brasil e na América Latina. Voltaremos em breve com mais uma edição do “Falando de Mercado”. Até logo!